Autor do requerimento da acareação, o deputado Enio Bacci (PDT) resumiu – talvez em um ato falho — o espírito da reunião, ao avisar logo no início de sua inquirição, que suas perguntas eram baseadas em conflitos que detectara “entre o depoimento de Cerveró, comparados ao que o Paulo Roberto afirmou ou ao menos ao que a mídia divulgou”. Um dos pontos levantados por Bacci como “contradição” foi a negativa de Cerveró, em três depoimentos prestados ao Legislativo, de que houvesse um esquema de propina ou desvio de recursos em negócios da Petrobras, “enquanto a mídia, não só a revista Veja, mas vários órgãos de imprensa, divulga que a afirmativa do Sr. Paulo Roberto é que, entre uma vasta gama de nomes que teriam sido beneficiados”.
Embora o colegiado não tenha acesso ao conteúdo da delação premiada — solicitado cinco vezes pela CPMI, sem sucesso —, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) perguntou a Paulo Roberto Costa se ele reiteraria o que disse à Justiça nos depoimentos prestados no escopo do acordo e ficou satisfeito em ouvir do acareado que mantinha “tudo” o que revelou nesses depoimentos. Já Cerveró preferiu lembrar à CPI que havia sido convocado para esclarecer divergências entre seu depoimento e o de Costa. “Não conheço os termos dos depoimentos prestados por ele e não vou responder a ilações da imprensa”, avisou.
Quem salvou a tarde, oferecendo à CPMI uma saída do labirinto, foi o relator ad hoc da comissão, o deputado Afonso Florence (PT-BA), que passou a inquirir Costa sobre o conteúdo de depoimentos prestados á Justiça antes do acordo de delação. Com isso, evitou, em parte, o surrealismo de ter Nestor Cerveró sendo acareado com o oculto.
Amargo arrependimento
Costa aceitou a deixa. Ele havia chegado a afirmar que não responderia perguntas da, repetindo a postura adotada em 17 de setembro, quando compareceu á CPMI, na condição de convocado, para prestar depoimento. “Não vou responder nenhuma pergunta. Todas as dúvidas já foram esclarecidas à Polícia Federal, ao Ministério Público e ao juiz Sérgio Moro”, afirmou, irritando o deputado Júlio Delgado (PSB-MG): “A CPMI tem a mesma legitimidade que essas instituições. Aliás, tem até mais, porque PF, MP e juiz, fazem concurso e passam. Nós fomos eleitos”.
Sem tratar de informações fornecidas no âmbito da delação, Costa revelou que se arrepende “amargamente” de ter aceitado apoio político para galgar a condição de diretor da Petrobras. “Entrei na Petrobras por concurso em 1977 e tinha, sim, o sonho de chegar a uma diretoria. Em todos os governos — todos, desde o presidente Sarney, passando por Color, Itamar, Fernando Henrique e Lula — ninguém chega à diretoria da empresa sem apoio político”, afirmou.
Tratado com hostilidade por parlamentares da oposição, no início da sessão da CPMI, Costa —cúmplice confesso do doleiro Alberto Youssef no esquema de desvio de recursos da Petrobras — acabou conquistando simpatias ao declara-se “enojado” com as “irregularidades” e ao confirmar, de maneira vaga, que o “esquema de desvios” estava era operado em três diretorias da estatal, inclusive a sua (Abastecimento). “Tenho certeza que o senhor será um dos responsáveis por um novo Brasil que vai entrar para a história e que estamos construindo para os nossos netos”, derramou-se o deputado Enio Bacci.
“Folclore”
Paulo Roberto Costa garantiu à CMPI que jamais tratou das irregularidades que o deixaram “enojado” com o então presidente Lula ou com a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele contou que levou ao Conselho Administrativo da Petrobras sua preocupação com a dificuldade na compra de materiais para a construção da Refinaria de Abreu e Lima, sugerindo que tenha havido formação de cartel pelas empresas fornecedoras, já que os preços cobrados eram excessivos. “Tivemos que fazer quatro licitações, pois os preços não eram repetitivos”, revelou, sem entrar em mais detalhes, já que esse foi um dos assuntos tratados nos depoimentos prestados sob acordo de delação premiada. O deputado Izalci (PSDB-DF), provocou: “O Sr. Não contou nem ao Lula, que o chamava de ‘Paulinho’?”. Costa rebateu: “Paulinho é folclore”.
Compra foi correta
Tanto Costa quanto Nestor Cerveró (diretor da Área Internacional da Petrobras na época da compra de Pasadena), concordaram que a compra da Refinaria foi uma decisão acertada. “Era correto comprar e os valores divulgados pela imprensa estão errados”, disse Costa. “Essa operação fazia parte do planejamento estratégico da empresa”, reiterou Cerveró, que também negou o recebimento de qualquer vantagem ilícita. Costa, porém, reafirmou, confrontado com uma gravação, que tanto ele quanto Renato Duque (ex-diretor de Serviços) e Cerveró teriam recebido propina.
Cyntia Campos