Entrevista

Crise econômica veio antes do coronavírus, analisa Rogério Carvalho

Em entrevista ao jornal Brasil Popular, líder aponta que posição irresponsável de Bolsonaro aprofunda a crise
Crise econômica veio antes do coronavírus, analisa Rogério Carvalho

Foto: Candisse Matos

Filho de agricultores, natural de Aracaju, capital de Sergipe, o líder da bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal, Rogério Carvalho, assumiu o mandato como Senador em 2019, após ter sido Secretário de Saúde no Sergipe e deputado estadual e federal pelo estado. Médico sanitarista e Doutor em Saúde Coletiva pela Unicamp, Rogério Carvalho foi relator de dois projetos importantes para o Brasil na Câmara dos Deputados: do programa Mais Médicos e na Comissão de Reforma do SUS. Em 2020, assumiu como líder do PT no Senado, viabilizando ações e projetos da bancada em conjunto com a oposição ao governo Bolsonaro. Desde o início da pandemia do Coronavírus, a oposição foi bem-sucedida na aprovação de leis fundamentais para a defesa da população brasileira, como o auxílio emergencial de 600 e 1200 reais para famílias e a liberação de recursos aos estados e municípios, enfrentando o descaso de Bolsonaro frente a crise sanitária e econômica que se instalou no Brasil e no mundo. A pandemia já causou mais de 50 mil mortes no país. Em meio às várias atividades e “lives” que tem promovido e participado, Rogério Carvalho respondeu gentilmente e com exclusividade as perguntas do Brasil Popular sobre os trabalhos do Congresso Nacional na guerra contra o Covid-19 e sobre as crises sanitária, econômica e política que o Brasil passa com a omissão irresponsável do governo Bolsonaro.

JBP: A pandemia é o maior drama deste novo século e vai marcar a história do Brasil e do Mundo. Qual o papel do Congresso Nacional, o poder legislativo, no combate à pandemia da Covid 19?

Rogério Carvalho: Considerando a inoperância e incompetência do governo Bolsonaro, nosso papel tem sido de fazer proposições para diminuir os impactos da pandemia, especialmente sobre a população mais vulnerável e também projetos de fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Já foram mais de 80 medidas e projetos de lei neste sentido. A nossa bancada tem agido assim no Senado Federal, mas acreditamos que o papel do Congresso Nacional também seja esse: preencher uma lacuna de atuação séria e republicana deixada pelo atual governo federal.

JBP: Como o senhor observa a postura do presidente Bolsonaro na tomada de decisões e consequentes ações do Governo Federal diante de uma possibilidade de o Brasil se tornar epicentro de contágio do Coronavírus? O presidente chegou a comentar que vamos ter 70% da população infectada e, neste cenário, a previsão de alguns cientistas é que o Brasil pode chegar a 1 milhão de mortes.  

Rogério Carvalho: É uma postura irresponsável desde o primeiro caso confirmado do novo Coronavírus. Primeiro, com atitudes negacionistas, minimizando a pandemia ao compará-la com uma “gripezinha”. Depois, em todas as ações descoordenadas e de ataques frequentes aos governadores, atuando contra o isolamento social, fazendo mudanças na condução do Ministério da Saúde, atrasando o repasse de recursos para os estados… foram inúmeras as vezes que o presidente agiu de forma irresponsável, aumentado a situação já calamitosa e nos empurrando para esta triste marca, de estarmos entre os países com o maior número de mortos e contaminados pela Covid-19.

JBP: Alguns projetos da oposição têm se destacado por conta da crise econômica e sanitária, como a taxação das grandes fortunas pela desigualdade social histórica e desproporcional do País, e o Renda Mínima, que pode viabilizar o mínimo de direitos para cidadania da população carente. O país tem condições de aprovar esses projetos? 

Rogério Carvalho: O Brasil tem condições e tem urgência também. A pandemia nos leva a um patamar de crise econômica sem precedentes. Nós teremos que, no período pós-pandemia, reinventar a economia brasileira e mundial em outras bases, mais solidárias, mais distributivas. Se não fizermos isso, estaremos rumo ao colapso econômico, o que não interessa a ninguém.

JBP: Quais as consequências sociais e econômicas que poderemos ter com a crise prevista não só no Brasil, mas no mundo?

Rogério Carvalho: Mais recessão, gerando mais desigualdade e consequentemente mais violência, fome, caos social. Só que, vale lembrar, essa crise econômica não foi causada pela pandemia do Coronavírus. Ela foi aprofundada e vai se radicalizar. A crise é anterior, começou com o golpe contra a Dilma e o governo de Temer. O modelo neoliberal e de estado mínimo não dá as respostas e soluções que o povo precisa, e que o crescimento do país exige. Ainda mais no caso do Brasil, um país enorme, de tamanho continental. As soluções precisam ser, portanto, pensadas de forma grande, regionalizadas, republicanas.

JBP: Qual é a possibilidade de o Congresso Nacional iniciar um debate sobre um possível impeachment do presidente Bolsonaro, a partir das declarações do ministro Sérgio Moro sobre suas interferências ilegais na Polícia Federal?

Rogério Carvalho: O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já recebeu mais de 40 pedidos de impeachment do Bolsonaro. Até agora, só um deles foi arquivado. Recentemente o PT, junto com outros seis partidos e 400 organizações, protocolou o primeiro pedido de impeachment coletivo. Há, portanto, muitas razões para iniciar a avaliação sobre estes pedidos de afastamento do presidente. A questão é o quanto a base aliada do governo e os partidos que compõem o Centrão estão coesos e com seus interesses sendo correspondidos, como na indicação de cargos no Executivo, por exemplo, para impedir ou derrotar a votação de um processo de impeachment. É essa a avaliação que precisa ser feita, e a correlação de forças muda de semana para semana, muito rapidamente.

O Senado tem declarado a importância de defender a democracia neste momento de ataques às instituições e ao estado democrático de direito que vinha contando com a participação de Jair Bolsonaro. A bancada do PT apresentou denúncia no Ministério Público Federal contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e tem enviado diversos projetos para defender o setor ambiental de sucessivos ataques do governo Bolsonaro e auxiliar a agricultura familiar contra a crise agravada pela pandemia do Coronavírus.

Confira a íntegra da entrevista

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