A crise na educação brasileira está se agravando por conta da política do governo federal, que vem tirando recursos do ensino. De acordo com um estudo da ONG Todos pela Educação, subiu para 40,8% a fatia das crianças de 6 a 7 anos que não sabem ler e escrever. Em 2012, o percentual era de 28%. A denúncia é feito com base em dados da Pnad Contínua, do IBGE. O percentual de crianças sem índice mínimo de alfabetização equivale a 2,4 milhões de indivíduos.
“Esse é o resultado de um desgoverno que transformou o MEC em instrumento de guerra ideológica e que não vê a educação como uma área estratégica para o futuro”, denuncia o senador Rogério Carvalho (PT-SE). “O mais grave é que o impacto é maior entre as crianças mais pobres, pretas e pardas”.
De acordo com a Todos pela Educação, o aumento de crianças de 6 a 7 anos sem alfabetização ocorreu durante a pandemia de Covid-19, nos últimos dois anos. Em 2019, já sob o governo Bolsonaro, 1,4 milhão não tinha sido alfabetizada, o equivalente a 25,1% da população dessa faixa etária.
“Os dados reforçam o que outras pesquisas já apontaram, a pandemia teve impactos brutais no aprendizado das crianças e reforçou as imensas desigualdades que já existiam no país”, aponta Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do Todos pela Educação. “É urgente colocar em prática políticas que tenham como prioridade o ensino das crianças mais pobres, pretas e pardas”.
O levantamento mostra um quadro de desequilíbrio preocupante. Entre as crianças que moram nos 25% de domicílios mais pobres do país, 51% não sabem ler e escrever. Já entre as que moram nos 25% mais ricos, 16,6% ainda não tinham aprendido. Em 2019, 20,3% das crianças brancas não sabiam ler e escrever. O percentual subiu para 35,1%, em 2021. No mesmo período, entre as crianças pretas, a proporção cresceu de 28,8% para 47,4%. Entre as pardas, subiu de 28,2% para 44,5%.
Em janeiro, Bolsonaro promoveu cortes no orçamento do Ministério da Educação, tirando R$ 402 milhões da educação básica e afetando o programa de transporte escolar. Ao todo, o MEC perdeu R$ 739,8 milhões. Segundo a ONG, a maior fatia vem da ação de apoio ao desenvolvimento da educação básica, de onde foram tirados R$ 324 milhões, um corte de 35% do que havia sido orçado.
Desde o início da pandemia, o Ministério da Educação, que tem uma secretaria exclusiva para a alfabetização, não desenvolveu nenhum programa ou destinou recursos extras às escolas para evitar prejuízos nessa fase de aprendizado.