Da conquista do voto à Presidência – Por Gleisi Hoffmann

Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher. A data é sempre uma nova oportunidade para análises e reflexões. Muita coisa mudou desde o surgimento dos movimentos feministas, passando pela conquista do voto no Brasil - em 1932, com a inclusão do direito no Código Eleitoral Provisório - e o direito de disputar cargos eletivos, à chegada de uma mulher ao mais alto posto da nossa nação - a Presidência da República.

Avançamos bastante em nossas conquistas, num período considerado curto para a história. Foi em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, que a mulher brasileira votou e foi votada pela primeira vez, em âmbito nacional, com a eleição da médica paulista Carlota Pereira de Queiróz, a primeira deputada brasileira – reeleita no ano seguinte.

Com a promulgação da Constituição de 1934, quando nosso direito ao voto passou a ser constitucional, tomou posse também a bióloga e advogada Bertha Lutz.

No Senado Federal, Eunice Michiles, suplente do então senador João Bosco de Lima, tomou posse quando da morte do mesmo, em 1979. Mas foi somente em 3 de outubro de 1990 que o Brasil elegeu, por voto direto, as primeiras mulheres para a Câmara Alta: Júnia Marise (MG) e Marluce Pinto (RR).

Passadas duas décadas, o Brasil-que permitiu o voto feminino antes de outros países europeus como França (1945) e Suíça (1971)- galgou à sua Presidência a primeira mulher: Dilma Rousseff. Uma prova do reconhecimento popular aos nossos esforços.

Antes de 1934, a política não era para nós, nem sequer falava com as mulheres. Não tinha nossa linguagem. Não nos considerava. O direito ao voto abriu portas para que muitas de nós entrássemos para a política. Garantiu o direito de nossa manifestação pública sobre direitos e deveres. Deu voz e espaço às nossas opiniões. Apesar de participação ainda modesta e aquém do ideal – somos maioria da população e do eleitorado -, já somos dez ministras de Estado, ocupamos dez das 81 cadeiras do Senado Federal e 45 das 513 vagas na Câmara dos Deputados.

Fazemos política com dedicação, paixão e profissionalismo, sem perder a capacidade de olhar a sociedade e seus problemas com uma sensibilidade que só as mulheres têm. Foi graças à representação feminina na política que temas voltados às crianças, aos adolescentes e idosos; igualdade de gênero; saúde da mulher e inserção social de pessoas com deficiência, ganharam grande espaço na pauta de discussões do Executivo e do Legislativo.

Nesse contexto, a presidenta Dilma tem honrado as mulheres brasileiras, com o compromisso de seu discurso de posse. Grande parte das políticas de governo tem direção para a população feminina: Minha Casa, Minha Vida; creches; Previdência para donas de casa; Plano de Combate ao Crack; programa para as pessoas com deficiência; Rede Cegonha; combate ao câncer de colo de útero e mamas; enfrentamento da violência contra as mulheres. A participação da mulher na política é condição para a democracia plena.

Essa conquista, que começou com o direito ao voto, mostra-nos que estamos no caminho certo: o de aprofundar as políticas de igualdade de gênero em nosso país.

Mesmo com participação ainda modesta na vida pública, tenho convicção de que hoje milhões de mulheres têm outro olhar: podemos dirigir nações e fazer história.

Publicado no jornal Brasil Econômico

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