Brasil protagonista

Davos: Brasil quer integração regional com produção sustentável

Fernando Haddad defende aliança latino-americana por produção de energia limpa; Marina Silva busca investimentos estrangeiros verdes

Ministro Fernando Haddad e ministra Marina Silva no Fórum Econômico Mundial, em Davos

Davos: Brasil quer integração regional com produção sustentável

Sandra Blaser/World Economic Forum

O Fórum Econômico de Davos se encerra nesta sexta-feira (20), e a representação ministerial do Brasil volta com boas expectativas na bagagem. Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança Climática, não trazem contratos assinados. Mas sinalizações e compromissos que podem significar investimentos, empregos, menos desigualdade. Sobretudo, comemoram que o diálogo respeitoso com o mundo foi restabelecido.

Nessa nova sintonia, o ministro e a ministra centraram discurso no desenvolvimento regional da parte sul do continente ancorado na sustentabilidade. Fernando Haddad falou mais de uma vez na necessidade de integrar a América Latina pelo viés produtivo. E defendeu investimentos estrangeiros para alavancar o crescimento de uma região que reúne potencial na geração de energia menos poluente, casos da hídrica, eólica, solar e de hidrogênio verde.

“Isso pode ser um fator de atração de indústrias que queiram produzir a partir da energia limpa, para que toda a sua cadeia produtiva esteja em compasso com as determinações ambientais que hoje são incontornáveis”, justificou. Haddad entende que essa atração pode resultar em desenvolvimento e em empregos de maior qualidade para a mão de obra latino-americana.

Florestas em pé

Marina Silva manteve reuniões com vários investidores e autoridades governamentais. Dois desses encontros foram com o ex-secretário de Estado e atual enviado especial do governo estadunidense para o Clima, John Kerry. Dali, disse a ministra, ficou encaminhada a criação de uma espécie de consórcio internacional para proteger as florestas.

“Em Davos trabalhei pelo fortalecimento cada vez maior das políticas de proteção de nossas florestas, por meio de parcerias com outros países com florestas tropicais, como Congo e Indonésia, e o apoio dos EUA”, afirmou.

Em entrevista após o encontro, John Kerry confirmou à TV Globo que deve vir ao Brasil no mês que vem, e que, antes disso, o presidente Lula é aguardado para uma visita a Washington.

Já no último dia em Davos, Marina teve um encontro emocionado com ativista climática Greta Thunberg. “Foi um encontro carregado de significado. Muito tocante para mim”, admitiu a ministra, acrescentando que elas discutiram o papel de autoridades, empresas e governos na defesa do meio ambiente.

Reaproximação

O ministro da Fazenda afirmou ter gostado da reação internacional às ideias que ele e Marina Silva transmitiram a empresários, autoridades governamentais e de organismos bilaterais em Davos. E defendeu que o Brasil seja representado em todos os fóruns internacionais. “Você precisa mandar alguém para cá. Se não veio o presidente da República, veio o ministro, queremos nos revezar, mas sempre é importante ter alguém representando o Brasil porque você dissemina informações relevantes, perspectivas sólidas sobre o que vai acontecer”, acrescentou.

Parte desses canais terá que ser reaberta, depois de quatro anos de distanciamento diplomático, quando não de isolamento. Um dos alvos é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38 países e busca estimular o intercâmbio de políticas públicas entre as nações. Após encontro o secretário-geral da entidade, Mathias Cormann, Haddad informou que o Brasil criou um grupo de trabalho para definir como participar da OCDE, e que esses estudos serão levados ao presidente Lula.

Reestruturação fiscal

Em painel que debateu os desafios brasileiros, Haddad anunciou, ao lado da ministra Marina Silva, que a equipe econômica estuda um sistema que desonere a parcela mais pobre da população, o que seria compensado pelo pagamento maior de tributos pelos mais ricos. Para ele, essa reestruturação poderá ser feita em duas etapas. Primeiro, aprovando uma reforma dos impostos sobre o consumo; depois, com a votação de uma reforma sobre a renda.

“Muita gente no Brasil não paga imposto. Então, nós vamos reequilibrar o sistema tributário brasileiro para melhorar a distribuição de renda”, explicou. O ministro da Fazenda disse ainda que o governo pretende zerar o déficit nas contas públicas em até dois anos, e que a tarefa será facilitada caso o Congresso aprove a reforma tributária.

O Brasil enfrenta esse problema há alguns anos, mas em 2020 houve recorde (a série histórica começou em 1997) no déficit primário, com um rombo de R$ 743 bilhões nas contas do governo. Nesse ano, a previsão é de que haja um déficit de R$ 231,5 bilhões, valor que deve ser reduzido pelo efeito de medidas já anunciadas pelo Ministério para aumentar a arrecadação tributária. São ações necessárias, acentuou Haddad, para corrigir problema causado pelo governo anterior, que adotou medidas eleitoreiras para tentar evitar a derrota de Bolsonaro nas urnas. Entre elas, a “renúncia de receita da ordem de 1,5% no Produto Interno Bruto brasileiro, que causou um tremendo de um desequilíbrio nas nossas contas, que precisa ser resolvido”.

Trabalhador de aplicativo

Antes de desse despedir de Davos, Fernando Haddad teve um encontro com o principal executivo do Uber, Dara Khosrowshahi. O ministro manifestou preocupação com a seguridade social dos trabalhadores de plataformas digitais, caso do Uber, e defendeu que eles sejam cobertos por direitos previdenciários.

“Esses trabalhadores têm de ter algum amparo social como todo trabalhador, uma perspectiva de se aposentar. Isso é uma demanda justa que eles estão fazendo”, afirmou o ministro depois do rápido encontro. Segundo Haddad, o presidente da empresa demonstrou sensibilidade a respeito do assunto e sobre a questão previdenciária, de modo geral. Ainda segundo o ministro, a empresa e o governo brasileiro devem avançar nesse debate.

To top