De princesa a presidenta – Por Marta Suplicy

Na eleição da presidenta Dilma Rousseff, fiquei extremamente tocada com a ênfase que ela deu à questão da mulher. Tanto no discurso no dia em que ganhou quanto no da posse, as palavras "compromisso" e "protagonismo feminino" soaram como música aos meus ouvidos e nos de milhares de mulheres do Brasil.

Depois, fiquei pensando quão difícil seria colocar essas intenções em ação. A resistência dos partidos em fazer indicações femininas, a timidez de muitas mulheres em pensarem-se como protagonistas, o desinteresse nas questões da mulher, os embates ideológicos… De fato, muitas montanhas a serem escaladas.

A pergunta fundamental que me faço hoje é: fez diferença ter uma mulher presidenta? Fez. Por motivos que não têm a ver com qualquer movimento específico da presidenta e também por ações concretas que ela implementou.

A mera presença de uma mulher no comando do país provocou, de imediato, um impacto. Consequência que possibilitou a mim a vice-presidência do Senado depois de 185 anos de hegemonia masculina e a nomeação da primeira diretora-geral da Casa.

A presidenta se debruçou com cuidado sobre os nomes femininos para os ministérios. Os partidos nunca “encontram nomes”. Sei a mão forte que é necessária para atingir o número de nove ministras a que Dilma atingiu. Isso sem falar na nomeação de mulheres para o Judiciário ou na substituição dos atendentes do avião presidencial por aeromoças. Isso não teria acontecido sem a determinação de Dilma. Lembro que FHC teve três ministras, e Lula, cinco.

Voltando ao simbólico, ainda não temos a medida. Serão necessárias algumas gerações para saber o efeito de ver, na TV, uma mulher falando como chefe da nação. Quanto tempo para as meninas passarem do brincar de princesa ao brincar de presidenta?

O príncipe não passará mais no cavalo branco, mas a autonomia e o poder são ingredientes muito atraentes. O cavaleiro não virá resgatar, será cúmplice e um igual.

De maior impacto para as mulheres, temos as ações do mês da mulher na área da saúde. Não é pouco reduzir 20% dos casos de mortalidade materna em um ano e colocar 22% a mais de recursos no combate ao câncer feminino.

Os caminhos políticos são árduos, e o recrudescimento do conservadorismo tem tido um preço -que não favorece as milhares de mulheres que morrem por aborto nem os gays trucidados por homofobia. A presidenta tem sido cautelosa no assunto. A nomeação de uma ministra que pensa diferentemente dessas forças foi um alento nesse impasse que parece uma muralha erigida por alguns no país e no Congresso Nacional.

Viva o dia 8 de março!

Publicado na Folha de S.Paulo

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