O isolamento social, consequente da pandemia, mostra como a tecnologia facilita nossas vidas. De casa, podemos interagir com familiares e amigos, realizar reuniões de trabalho e nos conectarmos ao mundo. No Senado, temos debatido e votado, virtualmente, matérias fundamentais para o país. Essas ferramentas têm sido muito úteis. Porém, precisamos refletir sobre as perdas e os ganhos. Acredito, por exemplo, que nada substitui o contato humano. E que a troca de ideias fica prejudicada. E também sobre o quanto a comunicação 4.0 contribui para a corrosão da democracia.
Há cerca de 50 dias, acendeu o sinal de alerta no Brasil. Fomos orientados a ficar em casa e tomarmos cuidados para evitar a contaminação. Em 17 de março, foi registrada a primeira morte no país e assistíamos ao caos já instaurado em outros países, como a Itália. As notícias da imprensa e das redes eram quase 100% sobre isso.
No entanto, somos governados por “Os Engenheiro do Caos”, como define Giuliano Empoli em seu livro com esse título. O presidente segue desafiando a comunicação tradicional e investindo em Big Data, que facilita seu total descompromisso com a verdade e seus desafios à ciência e à saúde pública. As ferramentas – utilizadas para difundir notícias falsas, atacar adversários e confundir a opinião pública – tornaram-se fundamentais para uma disputa de narrativas que desinforma e atrapalha. Mas logra êxito aos seus estrategistas, ao dispersar as atenções e diluir informações sobre a tragédia sanitária que vivemos, agravada pela ação irresponsável e incompetente de quem governa o país.
A escalada autoritária também encontra nesse ambiente de rápida difusão de informações uma terra fértil, ao reduzir assuntos sérios a superficialidade de memes e incentivar sentimentos de repulsa e violência contra quem pensa diferente. Os ataques a profissionais de saúde e a jornalistas ilustram isso.
Precisamos ter a capacidade de compreender essa metodologia que transforma cada ser humano em dados, nos enclausura num pensamento binário – a favor ou contra – e sufoca a diversidade de opiniões, algo essencial para a sobrevivência de regimes democráticos. Temos que estar atentos para que as redes sociais não virem redes de pescadores, nas quais a nossa democracia pode ficar presa numa próxima pescaria.
Artigo originalmente publicado no jornal O Povo (CE)