Um silêncio constrangido tomou conta do plenário do Senado, lotado de parlamentares, assessores, jornalistas e alguns poucos convidados no momento em que o painel decretou a cassação do mandato do ex-líder Democrata, Demóstenes Torres (GO). Não houve aplausos, comemorações, abraços ou qualquer manifestação de júbilo. Uns poucos tapinhas nas costas do relator do processo no Conselho de Ética, Humberto Costa (PT-PE) demonstravam muito mais a solidariedade de colegas pelos ataques desferidos pelo acusado que propriamente a alegria pelo resultado.
Anunciado o resultado, Demóstenes levantou-se agilmente e desapareceu pela porta do cafezinho, acompanhado do advogado Carlos Eduardo de Almeida Castro, o Kakay. Humberto ficou no centro do plenário, ladeado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Parecia aliviado por ter concluído um trabalho longo, duro, difícil e muito desgastante.
Humberto foi duramente atacado por Demóstenes, que não teve pudor de comparar seu caso ao processo enfrentado pelo petista quando ocupou o Ministério da Saúde. Humberto, embora tenha sido um dos denunciantes do caso conhecido como Máfia dos Vampiros (que desviou recursos da aquisição de medicamentos e hemoderivados) precisou responder a processo como investigado. Foi absolvido por unanimidade, após três anos. “Eu só peço o mesmo tempo para me defender”, apelou, em vão, um desesperado Demóstenes.
Foi uma sessão curta, de pouco mais de três horas que serviu para selar o destino de um dos mais influentes senadores da história recente da democracia brasileira. O homem que atacou duramente adversários, que apontou o dedo e criticou colegas por se comportarem inadequadamente, perdeu o mandato por mentir deliberadamente a seus pares e por ter colocado seu mandato à disposição de um notório esquema de contravenção.
Ninguém pediu a palavra para defender o senador. Exceto seu advogado de defesa, nenhuma voz se declarou contrária ao relator de Humberto Costa, que pedia a cassação do mandato de Demóstenes. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foi o autor da representação contra o agora ex-senador goiano. O outro companheiro de Ministério Público, Pedro Taques (PMDB-MT) endossou o processo no Conselho de Ética.
Com voto secreto, jamais se saberá realmente quais foram os 19 senadores que apoiaram Demóstenes e nem quem são os cinco que se abstiveram de votar. Numa sessão onde apenas um senador não compareceu – o maranhense Clóvis Fecury, do DEM, está em licença médica – ninguém se solidarizou com o acusado.
Sabe-se, porém, que o antigo arauto da moralidade e ex-líder Democrata está inelegível até 2027. Seus apelos por inocência não sensibilizaram 56 senadores.
Giselle Chassot
Leia também: