Por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, totalizando 80 presentes na sessão extraordinária desta quarta-feira, os senadores decidiram cassar o mandato de Demóstenes Torres (ex-DEM). O resultado da sessão, que durou pouco mais de três horas, foi o último passo do processo iniciado em março passado, quando vieram a público as primeiras degravações dos telefonemas monitorados pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, na operação que investigava as ações da organização criminosa de Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira.
O envolvimento do senador, que até então era apresentado pela mídia como baluarte da moralidade, inimigo feroz da corrupção e adversário temido em plenário por sua oratória demolidora, foi um baque que impressionou não só seus eleitores de Goiás, mas todos que viam na figura de Demóstenes Torres o representante legítimo da direita ultraliberal, adversário incondicional das cotas para negros e defensor irredutível da substituição dos direitos humanos pelo o uso da força na segurança.
Todo esse imaginário se desfez em questão de dias, à medida que a mídia tornava públicos os diálogos entre Demóstenes Torres e Cachoeira. Quanto mais se conhecia da amizade entre o senador e o contraventor – que Demóstenes Torres refutou, num primeiro momento – uma convicção ia se formando: o senador era um dos principais braços auxiliares da quadrilha de Cachoeira.
A mesma imprensa que elegera Demóstenes Torres como reserva de moralidade no Congresso, ou o classificava entre os mais influentes do Brasil, ou que o elevava quase que diariamente em colunas e artigos, ou ainda que o convidara como testemunha de defesa em processos por difamação, condoídos com a verdade dos fatos, o colocou no alvo da avalanche de notícias que sempre ocorre em casos do gênero. Exacerbados, passaram logo a serem chamados das “viúvas de Demóstenes”.
Os exemplos da cumplicidade de Demóstenes com o crime geraram a abertura do processo no Conselho de Ética no Senado, por quebra do decoro parlamentar. Escolhido como relator do processo, depois de cinco senadores terem recusado a função, o senador Humberto Costa (PT-PE) aceitou a missão. Mas não deixou de repetir, durante os quase três meses de trabalhos do Conselho Ética no processo, que o trabalho não lhe agradava nem um pouco.
Mas o parecer de Humberto Costa, apesar do trabalho a contragosto, foi preciso, sem pré-julgamento, sem o uso exclusivo das gravações comprometedoras – mas principalmente preso à atividade de Demóstenes Torres em seus dez anos e três meses como senador da República.
Levado à Comissão de Constituição e Justiça, para ser julgado pela sua constitucionalidade e juridicidade, o texto de Humberto Costa recebeu a mesma unanimidade de votos a favor que alcançara no Conselho de Ética.
Faltava apenas a aprovação do parecer pelo plenário do Senado. Que foi dado nesta quarta-feira (11/02), um dia histórico no Senado.
Alceu Nader