A denúncia explosiva, deprimente, de que o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) — ferrenho inimigo do debate sobre a condição feminina — assediou sexualmente e tentou estuprar uma jovem só reforça a necessidade de ampliar a discussão sobre a opressão de gênero em todas as esferas da sociedade. Essa é a opinião da senadora Regina Sousa (PT-PI). “Um parlamentar que faz um discurso fundamentalista, que usa o nome de Deus em vão, é esse mesmo parlamentar que não quer que se discuta a Lei Maria da Penha nas escolas”, criticou ela, em pronunciamento em plenário, nesta quarta-feira (3).
O deputado e pastor Marco Feliciano foi denunciado por uma jovem que é de sua própria igreja. Feliciano teria tentado estupra-la no apartamento funcional que ocupa em Brasília, no último dia 15 de junho. A jovem relatou que foi atraída pelo deputado para o apartamento a pretexto de “conversar sobre a UNE” (União Nacional do Estudantes, entidade que vive sob constante escrutínio dos parlamentares conservadores, que chegaram a criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigá-la).
Em troca de mensagens por WhatApp, Feliciano ironizou as queixas posteriores da jovem – “A carne é fraca”, escreveu. E ameaçou a vítima: “Quem vai acreditar em você?”
Regina Sousa destacou a obsessão dos conservadores em impedir a discussão sobre as relações de gênero nas escolas, assim como a tentativa de tornar os ambientes educacionais em espaços estéreis, com projetos como o “Escola sem partido”. “Querem uma escola onde não se discute nada. Que sirva só para jogar com a educação bancária, como descreveu Paulo Freire”. Uma escola, critica a senadora, que apenas joga conteúdo na cabeça dos meninos e das meninas, sem discussão. “Uma escola que ensina a obedecer, que adestra, em vez de ensinar a pensar”
No estado da senadora, o Piauí, os alunos das escolas públicas discutem a Lei Maria da Penha de forma lúdica, com cordel, poesias, teatro, música, a partir de um programa que é fruto de uma parceria do Ministério Público com a Secretaria de Educação. “Os meninos e as meninas estão incorporando a necessidade do combate à violência contra a mulher. E não é à toa que no Enem que abordou o tema, muito criticado, mas cuja escolha foi muito feliz, as melhores notas ficaram com os alunos do Piauí, porque discutem na sala de aula essa questão da violência”.