ARTIGO

Juiz Moro tem lado, lidera uma torcida

Poder judiciário tem de buscar a verdade e não o reconhecimento da opinião pública
Juiz Moro tem lado, lidera uma torcida

Foto: Douglas Magno/AFP

Na próxima quarta-feira, dia 10 de maio, nosso presidente Lula prestará depoimento a Sérgio Moro, em um processo que investiga possíveis ilícitos. Esse depoimento tem sido anunciado com grande estardalhaço, um grande embate entre o ex-presidente, que ainda tem, em qualquer pesquisa séria, o título de melhor presidente da nossa história e o midiático magistrado que lidera a Lava Jato.

Meu desejo é que essas expectativas sejam frustradas e que tenhamos, no dia 10, uma etapa importante do processo já mencionado, com observância de todo o processo legal, com respeito aos direitos que qualquer acusado tem, de ser tratado como inocente, até que se prove efetivamente algo contra ele. Entretanto, os antecedentes não confirmam depoimentos nessas condições.

Em realidade, a força-tarefa que comanda a Lava Jato tem demonstrado claramente que já tem opinião formada contra Lula e que agora só depende de encontrar provas contra ele. Isso ficou muito claro em vários momentos, alguns dos quais quero mencionar aqui.

Em primeiro lugar, a famosa entrevista feita pelo procurador Deltan Dallagnol, aquela do “power-point”, em que ele afirma que não dispõe de provas contra Lula, mas tem a convicção de que ele é culpado.

Além disso, tivemos o episódio da gravação, irregular, diga-se de passagem, de telefonema entre Lula e a então presidenta da República. Irregular porque foi gravado depois que o juiz Sérgio Moro mandara interromper as gravações. Mesmo assim, foi divulgado pelo magistrado, no mesmo dia, para rede de TV e sabemos que isso teve enorme impacto, ajudando no processo de impeachment de Dilma.

São vários outros episódios que sinalizam claramente uma posição previamente montada contra Lula. No último deles, o juiz Sérgio Moro divulgou vídeo nas redes sociais, recomendando “aos que apoiam a Lava Jato” que não saiam às ruas para manifestações, que segundo ele não seriam necessárias, “no dia 10 de maio”.

Note-se que Sérgio Moro dirige-se não ao público em geral, mas aos apoiadores da Lava Jato. Ou seja, àqueles que apoiam as acusações contra Lula. Nenhuma menção, nenhuma palavra aos apoiadores de Lula, que constituem o “outro lado” no processo e que deveriam merecer de um magistrado o mesmo respeito e a mesma preocupação.

Ora, se o juiz tem um lado, o dos apoiadores da Lava Jato, o que pode o acusado esperar nesse processo? Claro que não pode esperar um julgamento justo ou um tratamento respeitoso às suas posições. Está claro que será tratado como culpado, em função das convicções do juiz e dos acusadores do Ministério Público.

Some-se a isso o adiamento da audiência, de 3 de maio para o dia 10. A explicação oficial foi de que havia pedidos da Polícia Federal e do governo do Paraná (que portanto se soma ao esforço para buscar condenar Lula antes que ele possa ser candidato…). Depois, ficou claro que o adiamento teve o objetivo de fazer antes os barulhentos depoimentos com “novas acusações” contra Lula. Acusados que meses atrás diziam nada saber contra o ex-presidente, agora, depois de bastante tempo mantidos presos, dizem que “Lula sabia de tudo”, que “Lula era o comandante”.

Provas não foram apresentadas e nem serão, porque se trata de novas mentiras, apresentadas por delatores ansiosos por se verem livres da prisão. Serão mais alguns a se juntarem a tantos outros, corruptores ou corruptos confessos, ricos e soltos, curtindo suas prisões domiciliares em apartamentos de frente para o mar ou em mansões com piscinas e todos os confortos. Numa palavra, impunes!

Aqueles que acreditam em Lula, os que defendem que o processo seja justo e com amplo direito de defesa irão para as ruas, manifestar seu apoio e a cobrança por um julgamento justo, como deve ser em democracias.

O juiz Sérgio Moro tem a obrigação de se comportar de maneira respeitosa e ouvir o que o acusado tem a dizer. Acho também importante que a audiência seja integralmente gravada, dando a Lula o direito de expor sua imagem de maneira equilibrada. Até porque já sabemos que blogs e sites “apoiadores da Lava Jato” irão continuar recebendo por baixo dos panos os vazamentos que têm caracterizado essas audiências. Nos últimos tempos, esses vazamentos têm acontecido em tempo real, sempre expondo apenas aquilo que interessa aos acusadores.

O poder judiciário tem de buscar a verdade e não o reconhecimento da opinião pública!

Publicado originalmente nesta segunda-feira (8) no Blog do Esmael

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