Foram quase cinco horas de depoimento, no qual o prefeito de Palmas (TO), Raul Filho (PT), tentou explicar a razão de aparecer em um vídeo gravado pelo contraventor Carlos Cachoeira oferecendo “oportunidades”, em troca de apoio para sua campanha eleitoral. A muitas perguntasl Raul Filho disse que se esquecera ou não sabia. Ao final do depoimento, dominado principalmente, pelas investidas de parlamentares da oposição, o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), também se disse não estar convencido – e que as dúvidas não esclarecidas exigem mais investigação.
O prefeito foi crivado principalmente pelo deputado Silvio Costa (PTB-PE), que tem sido personagem destacado nas audiências da comissão, quando tentou explicar a aquisição de um aparelho de ginástica.
Já no enunciado de sua inquirição, Costa atacou. “O senhor está mentindo”, afirmou, desconsiderando a explicação do prefeito sobre a compra do aparelho. Nenhum parlamentar interferiu a favor do prefeito, quando o deputado trouxe à tona uma gravação feita pela Polícia Federal, durante a Operação João de Barro, que nada tem a ver com as operações Vegas e Monte Carlo que motivaram e ainda guia os trabalhos da Comissão.
Um aparelho de ginástica vira “personagem” – De acordo com a operação, os suspeitos estariam envolvidos num esquema de desvio de verbas para construção de casas populares por meio de fraudes em licitações de obras. Sílvio Costa questionou o prefeito sobre sua relação com o lobista Horácio César Fonseca Sobrinho. A João de Barro destinou-se a combater os esquemas fraudulentos nas licitações de diversas prefeituras, entre as quais Palma. Então licenciado da Prefeitura, Raul Filho teve sua casa revistada pela polícia – mas nada foi provado, e sua prisão, então cogitada, terminou não acontecendo. Contra ele, pesava a acusação de que recebera um aparelho de ginástica no valor de R$ 9 mil – como mimo pela assinatura de um contrato de construção de casas populares. “O senhor está mentindo”, repetiu Silvio Costa. “Seu aparelho foi pago com o dinheiro do povo de Tocantins”. “Eu paguei com dinheiro honrado” – retrucou Raul Filho. “Eu recebi um presente de R$ 9 mil por um contrato de R$ 50 milhões?”, perguntou, incrédulo, enfatizando a diferença de valores. “O que está em questão é o valor”, investiu novamente Silvio Costa.
Esquema da Delta em Tocantins assemelha-se ao de Goiás, diz relator – Assim como em diversas situações do depoimento, o prefeito também teve de dizer que havia se esquecido ou que não sabia, como quando o deputado Silvio Costa quis saber qual era o nome do laboratório que vende medicamentos para a Prefeitura. “Honestamente, eu não sei”, limitou-se a responder o prefeito.
Raul Filho tentou ainda comprovar que, durante seu primeiro mandato, tenha havido irregularidade na assinatura de um contrato de coleta de lixo com a Delta, no valor de R$ 71 milhões. Posteriormente, esse contrato foi reprovado pelo Tribunal de Contas do Estado.
Não foi apenas os parlamentares da oposição que saíram da reunião sem estarem plenamente convencidos da inocência de Raul Filho. O relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG), também se inclui entre os que acreditam que há ainda muito a ser explicado. Para o relator, o prefeito se contradisse. Fora isso, a descrição dos negócios da Delta em Palmas repete o mesmo padrão do modus operandi da empresa em Goiás. “Há indícios de que houve financiamento de campanha em troca de benefícios em contratos na prefeitura”, disse Odair Cunha.
Giselle Chassot