Negacionismo mata

Descaso de Bolsonaro com Covid matou 4,5 mil agentes de saúde

Estudo mostra ainda que 8 em cada 10 vítimas eram mulheres. Para senadores, presidente deve pagar pela negligência
Descaso de Bolsonaro com Covid matou 4,5 mil agentes de saúde

Foto: Sérgio Lima

Novo estudo comprova: o negacionismo e a negligência de Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19 provocaram a morte de mais de 4.500 profissionais da saúde, 80% mulheres, entre o início da crise sanitária, março de 2020, e dezembro de 2021. O levantamento inédito, que cruzou dados de fontes oficiais, foi feito para a Internacional de Serviços Públicos (ISP) pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data.

Para senadores da bancada do PT, o número é mais uma prova de que a tragédia da pandemia poderia ter sido muito menor do que as quase 700 mil mortes registradas no Brasil, número quatro vezes maior do que a média mundial de mortes por milhão de habitantes.

“Primeiramente, meus sentimentos a amigos e familiares pela perda de milhares de profissionais que se doaram para salvar outras milhões de vidas. Em segundo lugar, o governo Bolsonaro deve pagar pela negligência durante todo o período crítico da pandemia que levou a esse cenário caótico”, reagiu o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA). Para ele, “a falta de equipamentos de proteção e a demora na aquisição de vacinas certamente contribuiu para esta tragédia”.

Para senador Humberto Costa (PT-PE), que é médico e foi ministro da Saúde do governo Lula, os agentes de saúde foram vítimas do descaso de um governo negacionista. “Os profissionais de saúde, que foram corajosamente para a linha de frente durante a pandemia com a finalidade de salvar a população, foram, talvez, a categoria mais vitimada pela Covid-19. Se tivéssemos estruturado a nossa rede, comprado vacinas e EPIs a tempo, é possível que tantos trabalhadores não tivessem morrido porque estariam mais protegidos da exposição ao vírus. Eles são heróis. O Brasil deve muito a eles, vítimas de um governo omisso e defensor da doença, como é o de Bolsonaro”, apontou.

A pesquisa faz parte de uma campanha da ISP que denuncia a situação de quatro países nos momentos mais intensos da pandemia. Além do Brasil, escolhido pelo negacionismo do governo Bolsonaro, também foram investigados os números de Zimbábue, Paquistão e Tunísia. A ISP atua junto à Organização das Nações Unidas (ONU) em parcerias com a sociedade civil. O estudo faz parte de campanha “Behind the Mask” (Por Detrás da Máscara) e será apresentada à Organização Internacional do Trabalho (OIT).

“Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas, medicamentos, sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma Rosa Pavanelli, secretária-geral da ISP e integrante da Comissão de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU sobre Emprego em Saúde e Crescimento Econômico.

A análise foi feita a partir do cruzamento de microdados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e Registros de profissionais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

Os dados revelam que as mortes entre os profissionais de saúde se avolumaram mais rapidamente do que o observado na população geral, especialmente nos meses em que faltaram equipamentos de proteção individual (EPIs). Além disso, o impacto da doença foi maior nas ocupações com menores salários e mais próximas à linha de frente: auxiliares e técnicos de enfermagem morreram proporcionalmente mais do que enfermeiros, e estes, proporcionalmente mais do que os médicos.

Quanto mais próximos aos pacientes esses profissionais trabalhavam, mais morriam: 70% dos mortos trabalhavam como técnicos e auxiliares de enfermagem; em seguida vieram os enfermeiros (25%) e por último os médicos (5%). Para se ter uma ideia, foram 1.184 enfermeiros mortos, o que pode ter impactado diretamente o atendimento de 21.300 pacientes.

Pelas regras do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), cada enfermeiro atende até 18 pacientes e cada atendente, 9 doentes. Em Manaus, por exemplo, onde faltou oxigênio nos hospitais por incompetência dos governos estadual e federal, cada enfermeiro atendeu 40 pacientes com o auxílio de dois atendentes.

(Com informações do UOL e da Agência Bori)

To top