Nos últimos anos, o Brasil se habituou a recordes negativos de desmatamento e queimadas na Amazônia. Setembro, que carrega consigo o Dia da Árvores (21), trouxe mais uma vez essa manchete. Foi o pior mês em alertas de desmatamento na série histórica iniciada em 2015, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A Amazônia perdeu nada menos que uma cidade de São Paulo em árvores, ou 1.455 kms² desmatados, um volume 47,7% maior do que o registrado no mesmo período no ano passado.
A sequência de medições mostra que não é um acidente. No acumulado de 2022, as áreas com alerta de desmatamento já somam 8.590 km², o que já representa 4,5% mais florestas derrubadas do que em todo ano de 2021. A tragédia também supera o que até então era o pior ano da série, 2019, primeiro do governo Bolsonaro.
Pode piorar
Ao analisar o avanço de queimadas, desmatamento e conversão de áreas, o engenheiro agrônomo Cleberson Zavaski, da liderança do PT no Senado, avalia que esse deve ser o pior setembro de toda a história, e não apenas da série histórica do Inpe. E reforça sua preocupação sobre o trimestre final do ano.
“A previsão é de que outubro, novembro e dezembro, esses dois últimos meses já com registro de chuvas, mantenham esses índices de desmatamento recorde. É uma espécie de corrida do ouro, com garimpo para todos os lados, e uma destruição sem precedentes nos meses finais desse governo” – alerta o especialista, que chama a atenção para a repetição da tragédia mais ao centro do país: “o cerrado também deve bater recordes. Junto com a Amazônia, é o bioma mais desmatado do Brasil”.
Presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), o senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que o cenário é resultado da ação de um presidente que se orgulha de ter desmontado a fiscalização ambiental.
“Os dados atestam que esse governo, além de genocida, é ecocida. Nossas florestas estão sendo destruídas por uma cultura predatória, por um governo que se alia ao crime organizado com a finalidade de acabar com os nossos recursos naturais. Os órgãos de fiscalização foram desmantelados para facilitar a ação criminosa de grupos interessados em desmatar e espoliar o nosso patrimônio natural”, denuncia Humberto Costa, que cita o programa de governo do PT para mostrar que é possível expandir a agricultura sem agredir florestas: “por meio da recuperação de pastos degradados, por exemplo. Esse conflito entre agro e meio ambiente só está posto hoje porque interessa a Bolsonaro acabar com nossas florestas”.
Alternativa econômica
O líder do PT, Paulo Rocha (PA), alerta que há projetos na mesa para gerar emprego e renda na região, mantendo a floresta em pé. Mas lamenta que a opção do atual governo foi precarizar o aparato de proteção e facilitar os crimes contra o meio ambiente.
“O completo descaso com a fiscalização na Amazônia acaba por piorar dados que já eram alarmantes. Chega de incompetência! A produção sustentável pode e será incentivada na região no próximo governo, mas iremos atuar fortemente contra o desmatamento ilegal, como fizemos em gestões anteriores. Esse pesadelo logo acabará”, projetou o senador, ao destacar projetos de investimento na indústria de fármacos e de cosméticos, um setor que aproveita a biodiversidade sem destruí-la.