Descontrole

Diesel tem novo reajuste logo após chilique ensaiado de Bolsonaro

Aumento do preço do óleo é superior a 155% em três anos de desgoverno. Pressionadas pelas altas, empresas de ônibus ameaçam parar fora dos horários de pico
Diesel tem novo reajuste logo após chilique ensaiado de Bolsonaro

Arte: Site do PT

Quatro dias após mais um chilique ensaiado de Jair Bolsonaro em sua live das quintas-feiras, a Petrobras anuncia o primeiro reajuste sob a gestão de José Mauro Coelho, terceiro presidente da empresa desde 2019. Dessa vez, é o preço do diesel que será reajustado em 8,8%, no primeiro aumento desde o megarreajuste de março, que custou o cargo ao general Joaquim Silva e Luna.

O litro do derivado vendido às distribuidoras passará de R$ 4,51 para R$ 4,91. Com mais essa alta, apenas no desgoverno Bolsonaro, de janeiro de 2019 a 1° de maio de 2022, o diesel acumula aumento de 155,2% nas refinarias. Na semana de 17 a 23 de abril, o óleo foi vendido a R$ 6,73 em média, alcançando o maior patamar da série histórica da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), iniciada em 2004. O preço do diesel, vale lembrar, gera impacto direto na inflação, especialmente de alimentos.

A companhia afirmou que a alta “segue outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda acompanhando os preços de mercado”. Antes do novo aumento, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estimava em 21% para o diesel e 17% para a gasolina as defasagens em relação aos preços praticados pela Petrobras.

Em um movimento claramente combinado, o novo gestor da Petrobras promoveu conferência com analistas algumas horas após a live de Bolsonaro para anunciar o superlucro de US$ 8,6 bilhões (R$ 44,6 bilhões) no primeiro trimestre deste ano. O resultado é 38 vezes maior que o do mesmo período de 2021.

Também é o maior lucro entre as grandes petroleiras mundiais, conforme pesquisa do portal Poder360, superando as “grandes irmãs” BP, Shell, Chevron, ExxonMobil, TotalEnergies e Equinor. O mesmo portal estima que 67% da população brasileira apoia uma intervenção do governo na Petrobras para baixar os preços dos combustíveis.

Convidado a ir à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a política de preços da empresa, Coelho disse que “não há relação significante” entre lucros e reajustes nas refinarias, mas reforçou a continuidade da dolarização. “Seguiremos comprometidos e aderentes às estratégias delineadas em nosso plano estratégico.”

A demagogia barata do presidente

Bolsonaro, que mantém a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) adotada sob Michel Temer, voltou a apelar para a demagogia barata em discurso na Feira Nacional da Soja, no sábado (7). “O Brasil não aguenta mais o reajuste de combustível numa empresa que fatura dezenas de bilhões de reais por ano às custas do nosso povo brasileiro”, choramingou em mais uma cena ensaiada.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) desmascarou a hipocrisia bolsonarista. Para a entidade, o lucro da Petrobras “traz a marca da inflação recorde dos combustíveis e da transferência de riqueza promovida pela política de paridade internacional de preços que Bolsonaro deixou intocável nestes quase quatro anos de (des)governo”.

“A estatal brasileira, que deveria ser gerida para atender aos interesses nacionais, entregará aos acionistas mais R$ 48,5 bilhões de dividendos, logo após eles já terem recebido R$ 101 bilhões relativos ao exercício de 2021”, apontou a entidade.

Na última semana, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) alertou que poderia haver falta generalizada de ônibus caso ocorresse um novo aumento do diesel. Segundo a entidade, as operadoras serão obrigadas a racionar o combustível e oferecer apenas viagens no horário de pico, entre 5h e 8h e 17h e 19h. No resto do dia, os ônibus terão de ficar parados na garagem.

“As empresas não querem praticar uma operação seletiva, atendendo apenas linhas e horários de maior demanda, mas serão obrigadas a adotar essa medida radical, por não suportarem mais os sucessivos aumentos de custo e os prejuízos”, afirmou em nota o presidente da NTU, Francisco Christovam.

A maioria das associadas está sem caixa para fazer frente a mais um reajuste; não há como comprar o diesel para rodar, e colocar um ônibus na rua com tanque vazio seria uma irresponsabilidade”, completou. A NTU representa cerca de 400 empresas, de 2.901 municípios brasileiros atendidos por sistemas organizados de transporte público.

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