Na abertura da 67º Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, manhã desta terça-feira (25/09), a presidenta Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que criticou o protecionismo e todas as formas de manipulação do comércio internacional, que prejudica os países emergentes, cobrou maior articulação do G-20, grupo dos vinte países mais ricos do mundo, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para restabelecer a política fiscal e monetária dos países que enfrentam a crise mais grave dos últimos anos. “Sabemos por experiência própria que as dívidas soberanas (dos países) e financeira (das pessoas) não serão resolvidas com a recessão. Meu País tem feito sua parte, com uma política econômica prudente, que tem reservas e controle do endividamento. Com isso, retiramos 40 milhões de pessoas da pobreza e consolidamos um amplo mercado de massa, mantendo um nível elevado do emprego, com redução da desigualdade sociais e aumento da renda”, afirmou.
A presidenta Dilma acredita que enquanto os esforços dessa coordenação global a crise financeira não será resolvida e, para piorar a situação, iniciativas protecionistas do comércio e medidas que despejam quantidades expressivas de dinheiro na economia devem ser combatidas porque afetam os países emergentes, já que as moedas locais acabam sendo recebendo o impacto e se valorizam.
Dilma foi contundente ao dizer que o Brasil superou a visão incorreta de que não é possível associar o incentivo ao crescimento da economia com planos de austeridades que acabam prejudicando ainda mais o país, afetando em seguida a população, pela falta de emprego e de perspectivas de futuro. “É um falso dilema achar que a responsabilidade fiscal não pode vir acompanhada de incentivo ao crescimento, no contexto de recuperação da atividade. A história revela que a austeridade derrota a si mesma”, disse ela.
O Brasil, explicou Dilma, decidiu deixar para traz esse modelo ultrapassado de que a opção para sair da crise era, antes de mais nada, adotar uma política fiscal austera que corta benefícios sociais e no seu aspecto econômico sufoca a atividade. “A nossa opção foi enfrentar simultaneamente esses dois desafios, ter austeridade, mas também incentivar o crescimento. Mantivemos o controle das contas públicas e aumentamos o investimento em infraestrutura e em educação. Ao mesmo tempo em que controlamos a inflação, atuamos nas políticas de combate à pobreza e reduzimos a carga tributária e o custo da energia, privilegiando investimentos em infraestrutura associados com ciência, tecnologia e inovação”, enfatizou.
Oriente Médio
A presidenta Dilma condenou a onda de violência que se verifica em várias nações do Oriente Médio e norte da África, tema que a partir de 2011 passou a ocupar espaço central nas preocupações da comunidade internacional. Segundo ela, em diversas nações sob regimes despóticos tiveram o desencadeamento de um processo de renovação, difícil de ser identificado, mas que na verdade era um grito de revolta por causa do desemprego, pela falta de falta de oportunidades, de liberdade civis, impostas por governos autoritários e que afeta principalmente a população mais jovem. “Não é difícil encontrar marcas de ressentimentos históricos, resquícios de políticas coloniais. Pouco a pouco ficou claro que os interesses econômicos estavam ligados”, observou.
Segundo a presidenta, a no caso da revolta na Síria, o Brasil condena a violência que se verifica naquele país, que produz um drama humanitário de grandes proporções e cuja responsabilidade recai sobre o governo de Damasco a maior parte da violência que tem vitimado crianças, mulheres e homens. “Sabemos a responsabilidade das oposições e aquelas que contam com apoio militar de outros países. Por isso, o Brasil, que é uma pátria que abriga descendentes de sírios, pede que deponham suas armas e juntem-se aos esforços dos representantes das Nações Unidas. A diplomacia e o diálogo não são a melhor, mas a única opção”, disse ela, acrescentando que na condição de presidenta de um País onde vivem brasileiros de condição islâmica, repudia veemente a postura islamofóbica em países ocidentais.
“O Brasil por defender a iniciativa generosa da aliança de civilizações, com a mesma veemência repudiamos atos de terrorismos como o ocorrido contra diplomatas americanos na Líbia. Também reitero a fala de 2011. O apoio do governo brasileiro ao reconhecimento do estado palestino como membro pleno da ONU. Apenas uma palestina livre e soberana poderá atender aos anseios de Israel com estabilidade política internacional”, afirmou Dilma, sendo aplaudida pelo plenário das Nações Unidas.
Reforma do Conselho
Em diversas ocasiões a presidenta Dilma se dirigiu ao secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, principalmente quando cobrou a necessidade de renovar o Conselho de Segurança da ONU. Os impasses regionais que as Nações Unidas não estão conseguindo resolver é a prova visível do problema. Segundo Dilma, a crise financeira destinada a reformar a governança econômica até hoje não foi resolvida. Nesse período aconteceram guerras e conflitos cujo resultado foi a perda de vidas e imensos prejuízos materiais aos povos.
“Não podemos permitir que esse conselho seja substituído, como vem ocorrendo por iniciativa das coalizões, que tomam decisões que fogem de seu controle e aprovam o uso da força. Uma clara ilegalidade vem ganhando espaço. Isso não é a opção aceitável, é produto desse impasse que imobiliza o Conselho de Segurança e que precisa, urgentemente, ser reformando. O Brasil respeitará ações legitimas”, salientou.
Cuba
Dilma afirmou que Cuba tem avançado no seu modelo econômico, mas alertou que, para seguir adiante, precisa de todos, precisa de cooperação para progredir. E ressaltou que este processo de mudança naquele país tem sido prejudicado pelo embargo econômico imposto por alguns países, a partir dos Estados Unidos. “Está mais do que na hora de acabar com esse anacronismo”, afirmou.
A presidenta também pediu para que os integrantes das Nações Unidas sigam o exemplo de harmonia, tolerância e respeito às diferenças que se verificou em Londres durante a realização dos jogos olímpicos e paraolímpicos. “Proponho que seja ideal para o fortalecimento da ONU o respeito à multipolaridade, que abre a perspectiva histórica de intermediação dos conflitos, que predomine sobre o confronto, que a solução negociada chegue sempre antes e evite a intervenção pela força, buscando consensos. Cabe à ONU esse papel privilegiado”, afirmou.
RIO + 20
A presidenta Dilma destacou também o sucesso da cúpula Rio + 20 realizada no Brasil no começo do ano. Ela disse que o resultado da cúpula é uma fotografia do futuro que queremos, mas a sociedade deve encarar o desafio de enfrentar a mudança do clima como o principal objetivo para as gerações presentes e futuras. O governo brasileiro está firmemente comprometido com as ações para reduzir os efeitos da emissão de gás estufa e no combate ao desmatamento da floresta amazônica. “O multilateralismo saiu mais forte depois da Rio + 20. Naqueles dias de junho realizamos juntos a maior e mais participativa reunião do meio ambiente, consolidando a necessidade de crescer, incluir e preservar, buscando sempre o desenvolvimento sustentável”, afirmou.
E, contribuindo com o legado deixado pela Eco 92, que também aconteceu no Rio de Janeiro, a presidenta Dilma enalteceu o documento extraído da Rio + 20 que foi aprovado por consenso, ou seja, o ponto de partida que nasceu lá em 92 segue na agenda do desenvolvimento do século XXI, que é combater a pobreza, preservar os recursos naturais e manter o consumo. “As Nações Unidas têm uma série de tarefas delegadas pela conferência do Rio. Somos parceiros em atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável”, observou.
Trânsito
Dilma destacou positivamente a iniciativa apoiada pela ONU que é a proteção da vida com programas de incentivo à redução de acidentes no trânsito, uma das principais causa de morte no mundo, de jovens, inclusive.
Mercosul
A presidenta afirmou que o Brasil continua empenhado em trabalhar com os países vizinhos para garantir um ambiente democrático, próspero e com justiça social. A democracia para o Mercosul e para a Unasul é fundamental para preservar e defender o equilíbrio na região, ressaltando a importância do estado do direito e rechaçando regimes autoritários.
Marcello Antunes
Leia a íntegra do discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na abertura da 67ª Assembleia-Geral das Nações Unidas – Nova Iorque/EUA