Dilma: não consegui mudar o panorama econômica pela conjunção de forças que aprovava mais gastos e não aprovava o ajuste fiscalApós mais de 14 horas de sessão de julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (29), a presidenta eleita comprovou que não cometeu nenhum crime. Mas ela foi além. Não apenas demonstrou isso, como chamou o Congresso Nacional à responsabilidade pela atual situação do País.
No último embate da noite, Dilma foi questionada pela advogada de acusação, Janaína Paschoal, sobre o motivo da presidenta ter promovido ajustes fiscais apenas no ano passado ao invés de 2014 – ano eleitoral. A insinuação era de que o motivo seriam as eleições, mas a petista mostrou que a falácia da afirmação.
Isso porque, segundo Dilma, o preço das commodities – como petróleo, minério de ferro e soja – começaram a cair vertiginosamente apenas a partir de outubro de 2014. O Brasil é extremamente dependente desses produtos primários, o que acabou desencadeando um efeito cascata na economia do País.
Quando foi apresentado uma alternativa à crise, porém, a oposição ao governo petista cruzou os braços.
“Por que não consegui fazer alterações rápidas nas condições [econômicas] do País? Por que há conjunção de duas forças: a que aprovava mais gastos públicos e não aprovava nenhuma das pautas de ajuste, porque apostava no quanto pior melhor”, denunciou Dilma.
Para a presidenta, isso levou ao agravamento da situação econômica. Diante do cenário, além da injustiça de ser julgada por ter assinado decretos de crédito suplementar que não aumentaram os gastos públicos – uma vez que há remanejamento, não elevação de gastos –, Dilma pediu responsabilidade dos parlamentares com o País.
“Não é possível utilizar, para a gestão de um país, desse tipo de política e de posicionamento. Nós temos de aprender que não é possível repetir esse tipo de politização diante da crise, porque isso só faz aprofundá-la. É irresponsabilidade perante o povo brasileiro e é irresponsabilidade perante todos nós”, disse.
Ela reforçou ainda a gravidade de afastar uma presidenta que não cometeu nenhum crime. “Não se trata de um golpe como aquele que nós todos, que têm a minha idade, ou um pouco menos, ou um pouco mais, sofremos ao longo da nossa juventude, mas quando se fazem exceções e se tira um presidente eleito sem crime de responsabilidade, este ferimento será muito difícil de ser curado”, finalizou Dilma, pedindo que as senadoras e senadores tenham consciência na hora de a julgarem.
Carlos Mota
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