Mantido no anonimato por seus pares do PSDB no horário político gratuito, pois caem as intenções de votos de seus candidatos sempre que aparece, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, seis anos após deixar o poder, ainda dá mostras de ressentimento por não ter conseguido realizar o que um ex-metalúrgico viria fazer em seu lugar.
FHC não aparece nas propagandas de seu partido, mas conta com generoso espaço na mídia para opinar sobre o que quer que seja. De tempos em tempos, refere-se a seu sucessor – aquele que tirou 40 milhões de brasileiros da pobreza quase absoluta e entregou o País com pleno emprego e inflação sob controle e, o que não admite, com o melhor índice de aprovação que um presidente da República do Brasil obteve ao final do mandato. Em poucas palavras, o melhor presidente que o Brasil teve em toda a sua história republicana.
Foi justamente nesse espaço que o oligopólio lhe concede gratuitamente que FHC se aproveitou, no último domingo (03), para atacar o retorno do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à vida pública, após meses de tratamento contra um câncer na garganta.
Seu artigo “Herança pesada”, publicado em dois jornais que possuem tiragem de quase 500 mil exemplares aos domingos, expõe a tentativa de ressuscitar a “herança maldita” – um rótulo que já foi extensivamente divulgado no início do governo da presidenta Dilma Rousseff, mas que a realidade tratou de desmentir. Agora, FHC volta à pressão com outro adjetivo – igualmente equivocado,
Ao contrário do que tucanos de todo tipo de pena e coloração propagaram, com repercussão garantida na mídia, os programas sociais deixados por Lula não só foram mantidos, como ampliados. Tampouco se cumpriram as previsões de que o Brasil sucumbiria à mais grave crise da história do capitalismo. Pelo contrário, ainda que atingido pela crise o País não freou sua política social, não adiou projetos nem provocou o desemprego. Os brasileiros ainda guardam na memória dos oito anos de governo do próprio FHC a privataria das teles, o apagão, a subserviência ao FMI, o desemprego, entre outras “realizações” .
O ataque desferido pelas meias verdades e omissões do texto assinado por FHC (sintomaticamente, ele se esqueceu de mencionar todos os escândalos que permearam seus oito anos de governo – da privataria ao mensalão do PSDB, até mesmo o escândalo da compra de votos para a reeleição), desta vez, teve resposta. E quem contesta é a própria presidenta Dilma que recebeu a “herança bendita” de Lula, segundo ela própria definiu.
Na tarde desta segunda-feira (03/09),a Presidência da República divulgou nota oficial, movida pela “necessidade de colocar os fatos em seus devidos lugares”. Leia abaixo a íntegra:
“Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes.
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil”