Cyntia Campos, com informações do Brasil 247 e agências
As dificuldades encontradas pelas empresas brasileiras para participarem de licitações como as que têm sido feitas pela Petrobras, nos últimos tempos, não são mero acaso. “É muito importante ter clareza de que há interesses eminentemente escusos em querer inviabilizar empresas. Não é algo gratuito”, alertou a ex-presidente Dilma Rousseff, que na última quarta-feira (25) proferiu uma conferência sobre “O assalto à democracia no Brasil e na América Latina” em um seminário na cidade de Sevilla (Espanha).
Dilma apontou os “interesses escusos” que estão por trás da inviabilização da participação das empresas brasileiras nas grandes licitações no País, como as da Petrobras, sob o novo comando de Pedro Parente no governo de Michel Temer. Ela está participando do seminário “Capitalismo neoliberal, democracia sobrante”, que será encerrado nesta quinta-feira, em Sevilha, e coube à ex-presidente brasileira apresentar a conferência de abertura do evento, que reúne acadêmicos, juristas, políticos e intelectuais de vários países.
“Não se pode usar a corrupção como instrumento político de destruição de quem eles consideram inimigos”, afirmou Dilma, fazendo referência à Operação Lava Jato. “Em todos os lugares do mundo se combate a corrupção não destruindo as empresas, mas prendendo os executivos. Eles têm que ser punidos, não as empresas, que são instituições, nem os partidos também”, exemplificou.
A ex-presidente chamou a atenção para a ausência das grandes empresas brasileiras nas principais licitações. “Aparecem grandes empresas internacionais de construção”. Recentemente, a Petrobras abriu uma licitação em que permitiu a participação de uma empresa argentina investigada na Lava Jato, mas impediu a participação de empresas brasileiras por serem investigadas por corrupção.
Impacto da Lava Jato no PIB
Os alertas sobre os prejuízos causados pela Operação Lava Jato na economia nacional vêm sendo reiterados por setores tão diversos quanto a Consultoria de investimentos GO Associados, o presidente do banco Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme, e o procurador da República Eugênio Aragão, que foi ministro da Justiça no governo Dilma. Ainda em 2015, Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da consultoria GO Associados já havia divulgado um relatório demonstrando que os impactos diretos e indiretos das investigações poderiam tirar R$ 142,6 bilhões da economia brasileira naquele ano, o equivalente a uma retração de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), devido à drástica queda de investimentos das empresas.
A mesma consultoria falava na redução de 1,9 milhão de empregos diretos e indiretos, na queda de R$ 22,4 bilhões em salários e na diminuição de R$ 9,4 bilhões em arrecadação de impostos. “A forma pela qual a Lava Jato vem sendo tocada, com excesso de publicidade e pouco critério na divulgação das delações, aumenta desnecessariamente o custo sobre emprego e produção”, acrescentou Gesner Oliveira.
Paulo Leme, presidente do Goldman Sachs — um dos maiores bancos de investimento americanos operando no País– chamou a atenção para o “problema financeiro muito grande no setor privado, especialmente nos setores de óleo e gás, elétrico, de açúcar e etanol e para as empreiteiras” decorrentes da condução dada à Operação Lava Jato, que colocava “em risco a solvência dessas empresas”.
Eugênio Aragão ressaltou que não é preciso quebrar a economia para combater a corrupção. Na Alemanha, a Volkswagen foi sacudida por escândalos de distribuição de propina, assim como a fabricante de aviões e helicópteros Messerschmitt-Bölkow-Blohm. “Ministros e outras autoridades implicados caem, mas a empresa não é destruída”. Para o ex-ministro. O problema no Brasil é que “essa garotada do Ministério Público não tem a mínima noção de economia. Simplesmente botaram na cabeça uma ideia falso-moralista de que o País tem de ser limpo”.
Leia Mais:
Brasil 247: Dilma: “Há interesses escusos em querer inviabilizar empresas”
Carta Capital: “Essa garotada do MPF não tem a mínima noção de economia”
O Globo: Impacto da Lava Jato no PIB pode passar de R$ 140 bilhões, diz estudo
O Estado de S. Paulo: ‘Recuperar saúde do setor privado é tão importante quanto ajuste’, diz presidente do Goldman Sachs