A presidenta Dilma Rousseff questionou nesta terça-feira (12/06), durante evento em Belo Horizonte (MG), a aprovação de novo repasse de recursos a instituições financeiras privadas, desta vez de € 100 bilhões a bancos espanhóis. “Mais uma vez as autoridades da Zona do Euro respondem a uma crise que se aprofunda e que se torna uma crise quase crônica com € 100 bilhões de euros para financiamento aos bancos. A pergunta é, até quando esses € 100 bilhões (serão suficientes)?”, indagou.
A crítica da presidenta é justificada porque a receita adotada pelos países europeus, de austeridade fiscal, foi adotada anteriormente e não obteve sucesso. Dilma lembrou, por exemplo, dos investimentos feitos aos países da Zona do Euro que não deram resultados. “Vamos lembrar bem que no fim do ano passado foram liberados 1 trilhão de euros também para os bancos, e que não resultou numa reciclagem das dívidas”, disse ela.
A presidenta ressaltou que os países emergentes têm segurado os outros países durante a crise, apesar da retração “brutal” dos mercados. “Nós vivemos nesse mundo em que a crise do sistema bancário se sobrepõe à crise soberana dos países. Tudo indica que se não forem tomadas medidas, e essas medidas não são dinheiro, são medidas para mudar o padrão de crescimento e a visão que se tem dos processos de ajustamentos, nós sabemos que um país não sai da crise, pelo contrário, ele cria para ele mesmo uma armadilha”, afirmou. Segundo ela, cada vez que o país corta um gasto ao invés de investir, provoca o que está se observando na Europa, ou seja, uma profunda crise. “As medidas consistem em mudar a visão dos processos de ajustamento, o que nós temos grande experiência”, enfatizou.
Segundo Dilma, o Brasil vem apresentando uma a saída diferenciada para o enfrentamento da crise financeira – o estímulo à atividade econômica interna, com redução de juros, acesso ao crédito e diminuição de impostos –, um receituário que surtiu efeito no colapso de 2008 e arrefeceu os impactos negativos. “Eu queria dizer que o Brasil tem forças internas para enfrentar essa crise porque é diferente dos outros países da Europa que não têm forças internas. Nós estamos muito bem fincados nos nossos próprios pés. Nós temos política econômica consistente; nós não temos uma visão que acha que o ajuste é a saída, já que pode fazer com que 54% da população de jovens de um país fique sem emprego. Nós nunca achamos isso, nós temos uma política de defesa do emprego, sim”, disse.
Ao participar de cerimônia de assinatura do termo de compromisso para elaboração do projeto executivo das obras de modernização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, Dilma rechaçou as críticas sobre o estímulo ao consumo. Segundo ela, o governo não busca uma política de gasto fácil no Brasil, porque está voltado para o investimento.
“Não concordo com a história de que não é preciso estimular o consumo. O estímulo é uma característica intrínseca do nosso modelo. Nós ainda temos um consumo extremamente reprimido das classes populares nesse País. É uma visão absolutamente equivocada achar que quem não tem uma melhoria de renda não quer comprar uma televisão, uma geladeira. Isso não tem nenhum problema, o Brasil comporta isso. Não temos um nível elevado de endividamento das famílias, é só pegar os padrões internacionais”, observou.
Dilma defendeu a política de conteúdo nacional nas compras governamentais e, mais uma vez, rebateu as críticas de que a Petrobras estaria com atraso na produção porque o governo não teria permitido a importação de sondas. A presidenta disse que o atraso na entrega de sondas foi de uma empresa estrangeira, e não dos fornecedores brasileiros. Eventuais atrasos não devem ser atribuídos à política de compras do governo, que, segundo Dilma, é correta e praticada por outros países, como os Estados Unidos e a França.
Discurso
Os nossos próprios recursos são os recursos que nós construímos ao ampliar o mercado interno deste país, que era um mercado interno, vamos lembrar bem, extremamente restrito. A partir do governo do presidente Lula, nós conseguimos ampliar o mercado interno. E praticamente, para a gente ter uma idéia da dimensão, transformamos em consumidores, em produtores, em trabalhadores, 40 milhões de brasileiros que foram elevados à condição de potencializar o nosso mercado interno. Além disso, os nossos próprios recursos significam que nós fizemos a nossa parte no dever de casa nosso. Nós temos, hoje, um volume de reservas que faz com que o Brasil tenha suas defesas no que se refere à volatilidade cambial e aos problemas de financiamento, que crises desse tipo, que ocorreram e que estão ocorrendo, que ocorreram com o Lehman Brothers e que estão ocorrendo nos mercados bancários europeus, que é uma chamada fuga para a segurança.
Enquanto isso, aqui no Brasil, nós somos um país que está caminhando para alterar as condições de investimento. Alterar as condições de investimento no Brasil significa o seguinte. Primeiro, tem de reduzir o custo de capital do país. Reduzir o custo de capital do país é reduzir juros. Não se faz isso por decreto, se faz isso perguntando: afinal de contas, qual é a nossa diferença que explica juros, que explica tecnicamente – eu não estou perguntando explicação política para isso, estou perguntando a explicação técnica – para diferenciais de juros que não se compadecem com a qualidade da nossa situação econômica. Por quê? Porque além de termos a inflação sob controle, somos um país que fez o seu dever de casa e tem as suas finanças públicas sob controle. Temos uma das menores relações dívida/PIB do país. Então, temos de reduzir o custo do capital.