As músicas são tão boas e retratam tão bem os personagens e as situações que parecem feitas sob medida para cada história desenvolvida.
Cadinho e suas três mulheres tiveram em Rita Lee o embalo perfeito. É a parte leve e elegante da trama: hipócrita, cheirosa, culta e com grife. Mas o que conquista o espectador é a turma do bairro suburbano do Divino. Os que conhecem se identificam e os outros ficam interessados em olhar um universo tão rico, espontâneo e divertido. O Divino é um microcosmo das relações humanas em estado bruto! Tem de tudo. Quando comecei a achar falta da representação das igrejas, apareceu uma atriz pornô de Madalena arrependida. O binóculo mergulhado na turma do subúrbio imaginário mostra uma comunidade que vive como sente.
Aparecem também os “ricos” que ficaram no subúrbio, representados pela família do ex-jogador Tufão. Essa história de morarem todos juntos é engraçada, pois levaram para a mansão o “puxadinho” da pobreza. Ainda não sabem que rico gosta de privacidade.
As confusões são bem alinhavadas. Só não entendo onde João Emanuel quer chegar com essa mocinha vilã, que vem me irritando pela burrice há algum tempo e agora ficou inverossímil. Passou do ponto.
Vai ver é porque a Vera Holtz, como mãe Lucinda, está um assombro e a Adriana Esteves queria ter sua oportunidade de Oscar. E mereceu um, como a megera Carminha no carro, sibilando de ódio quando relembra como foi enganada por Rita. Arrasou.
Mas a vilãzinha -epa!, a heroína- tinha também que ter seu grande momento, e a insanidade nos olhos de Nina nos seus ataques de fúria e ódio também consagram Débora Falabella. O elenco todo e a direção estão de parabéns e já estava de bom tamanho.
De repente, eu comecei a achar a transformação de Nina numa vingadora alucinada forçada. Carminha não se submeteria a tanta humilhação sem tramar rápido um contra-ataque! Não gostei de ver a mocinha ser tão doida, e a bandida, tão submissa. Comecei a torcer para Carminha se rebelar.
Será que é isso o que o autor procura? Que fiquemos sem chão? Qual é o personagem mais pervertido? Ou tudo não passou de uma bem urdida trama para dizer que a vingança não é um prato que se come frio? Mas vingança dá dor de barriga. Indigestão, como provavelmente veremos nos próximos capítulos. Ou será que não? A música da Marisa Monte para Nina me sugeriu, desde o começo, que ela ficaria com o Tufão. Vai ver, num hospital psiquiátrico.
O interessante é que tudo muda tão rápido e de forma tão pouco previsível, como a vida, que a gente continua ligada para ver onde vai chegar ou terminar uma novela tão “over” e que conecta tanto.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.
Folha de S Paulo