A semana de trabalho no Congresso Nacional prometia tranquilidade para esta semana, quando não haverá qualquer votação nem no Senado nem na Câmara. O clima deve ser quebrado nesta terça-feira (14/08) durante a reunião administrativa da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos – o Carlinhos Cachoeira. A expectativa é de muito bate-boca e confusão já que o deputado Dr Rosinha (PT-PR) promete apresentar um alentado requerimento pedindo a convocação do diretor da sucursal de Brasília de uma das maiores revistas de circulação nacional do Brasil: a poderosa Veja, do grupo Abril.
Munido de um polpudo material que contém um quadro completo das ligações entre o jornalista Policarpo Júnior, da Veja, e a quadrilha do contraventor Cachoeira, Dr Rosinha acredita firmemente que pode conseguir a aprovação do pedido. Ele assegura dispor de quase uma centena de interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal nas operações Vegas, de 2009, e Monte Carlo, realizada em 29 de fevereiro deste ano.
Matéria publicada nesse fim de semana pela revista Carta Capital mostra boa parte desse material, que inclui o que Rosinha acredita ser a encomenda de um grampo ilegal contra um deputado federal.
Segundo a Carta Capital, o material nas mãos do deputado petista mostra como Cachoeira fornecia fotos, vídeos, grampos e informações privilegiadas do mundo político e empresarial ao jornalista. Nesta segunda-feira, o site PT no Senado ouviu o deputado. Veja abaixo a reprodução da conversa:
PT no Senado– Deputado, antes desse seu requerimento, vários outros já foram apresentados pedindo a convocação do jornalista Policarpo Júnior para prestar esclarecimentos sobre sua possível relação com o esquema de Cachoeira. O que difere o seu pedido dos demais?
Dr Rosinha– O conteúdo de meu requerimento, que é bem diferente dos pedidos anteriores. Os outros não entravam em detalhes e nem faziam a relação entre as conversas dos dois e os resultados, que eram matérias publicadas pela revista. A demonstração está clara agora.
PT no Senado– Para algumas pessoas, em um dos trechos das gravações, quando o jornalista pede “dicas” para Cachoeira sobre “umas ligações aí do deputado Jovair Arantes” (PTB-GO) ele estaria perguntando por conexões do parlamentar, pessoas que ele conhecia e não sobre conversas telefônicas a serem grampeadas. Como o senhor vê essa análise?
Dr Rosinha– É natural que a corporação (no caso, os jornalistas) tente se proteger e atue com espírito de corpo. Mas eu estou convencido que se trata de algo bem mais efetivo que a busca de meras “conexões”. Até porque, as conversas sempre acabavam em resultados práticos, matérias publicadas pela revista e, como vocês (jornalistas) dizem, em furos de reportagem.
PT no Senado– O senhor acredita que a Veja, como publicação, tinha conhecimento ou mesmo incentivava essa suposta relação entre seu diretor e Cachoeira?
Dr Rosinha– Estou certo disso. Um diretor de sucursal não teria como proceder como procedeu sem que a direção da revista estivesse ciente. Além disso, ideologicamente eu sou levado a crer que ele não estava isolado. A Veja tem atuado, até do ponto de vista ideológico, contrariamente ao PT, assim como o Policarpo.
PT no Senado– A reunião desta terça-feira, então, promete bastante polêmica. O senhor acredita na aprovação de seu requerimento ainda nessa sessão?
Dr Rosinha– Eu prefiro que cada um dos integrantes da CPMI se debruce sobre os fatos com o olhar investigativo e lembre que ouvir um jornalista não significa censurar a imprensa. Significa, apenas, tentar esclarecer indícios.
PT no Senado– O senhor não acha que, mesmo convocado, o jornalista pode preferir se manter em silêncio, como já fizeram outros depoentes?
Dr Rosinha– A Constituição garante esse direito a qualquer cidadão: não se autoincriminar. Mas o silêncio para se autoproteger também pesa.
Giselle Chassot