??O PT nasceu como partido de esquerda e de massas contra a ditadura militar, pela democracia, em defesa da classe trabalhadora e pelo socialismo democrático.
Embora tenhamos em comum com a social-democracia europeia a forte ligação com o mundo do trabalho e seus sindicatos, nossa gênese inclui a influência das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica progressista, do movimento de trabalhadores rurais, profissionais liberais, lideranças e intelectuais de outras tradições da esquerda.
Esta origem diversa e plural é uma de nossas riquezas. E se não há correspondência entre nós e as tradições da social-democracia, tampouco as há com a esquerda originária da Terceira Internacional. Embora nunca tenhamos rejeitado considerar suas ideias, sempre tivemos elaborações próprias. Não cabe forçar paralelismos no passado ou no presente como fez Mathias Alencastro em sua coluna.
Além das diferenças de origem, temos trajetórias distintas. Nunca nos aproximamos da formulação estratégica da social-democracia europeia, da concepção da “terceira via” de conjugar economia neoliberal e compensações sociais.
Temos diferentes concepções de integração regional. Enquanto na União Europeia as teses de enxugamento do Estado e austeridade fiscal se consolidaram, no caso latino-americano, no qual fomos protagonistas da integração, optamos por organismos multilaterais de concertação, com políticas sociais e de desenvolvimento.
A “geringonça”, aliança do Partido Socialista de Portugal com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, caracteriza-se pelo enfrentamento aos ditames neoliberais, às determinações da Comissão Europeia e às regras de limitação do gasto público.
O líder trabalhista inglês Jeremy Corbyn é forte crítico do ideário neoliberal gestado no Reino Unido e, por isso mesmo, se opõe ao brexit. Sua política de alianças visa levar adiante um programa anti-neoliberal cuja liderança caberá ao seu partido, ao contrário de Tony Blair, que tentou um “aggiornamento” com teses neoliberais da época.
Por fim, é total “nonsense” dizer que o acirramento da esquerda é a tragédia dos democratas. No Brasil, foram os setores de centro e centro-direita que gestaram a articulação antidemocrática que levou ao impeachmentinconstitucional da presidenta Dilma, à proibição da candidatura Lula e, por fim, à submissão vergonhosa à candidatura Bolsonaro, assumidamente autoritário e defensor da ditadura militar.
Relembrando a história, não foi a esquerda que gerou Mussolini e Hitler e os levou ao poder. Foram os defensores do laissez-faire e liberais da época, sendo a esquerda uma de suas primeiras vítimas, isso sim.
Seguimos do lado da democracia, da defesa das instituições democráticas e de seu aperfeiçoamento, como foi nas Diretas Já, no processo constituinte, na luta contra o impeachment, contra a prisão de Lula e nas eleições de 2018, com propostas públicas e disposição ao debate.
Desculpem, mas tomem que esse filho é seu.
Mônica Valente é secretária de Relações Internacionais do PT
Kjeld Jakobsen é consultor e ex-secretário de Relações Internacionais da CUT
Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo