O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidenta, Senadora Marta Suplicy, vou falar hoje sobre a mulher e a ecologia. Mas quero antes saudar, já que foram abertas as galerias, os inúmeros ciclistas que me acompanharam desde o Museu da República, bem como os estudantes de Engenharia, da Universidade Estadual Paulista, de Ilha Solteira, que estão presentes.
Primeiro, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, nada melhor do que fazer um paralelo entre o papel específico da mulher e a ecologia. O corpo da mulher já é biologicamente preparado para que ela cuide de outras vidas, antes de cuidar da sua. A maternidade nada mais é que o fundo biológico da solidariedade e do altruísmo, que tanto precisamos no mundo.
Ao contrário do homem, praticamente todo o corpo da mulher é dirigido para a maternidade. A mulher tende a ser receptiva e altruísta. Isto está acontecendo, por exemplo, hoje, no Brasil, no Governo da Presidenta Dilma Rousseff. Logo no primeiro ano do seu mandato, ela obteve maior aprovação da sociedade do que os presidentes homens que a antecederam.
Para “dominar” o mundo masculino é preciso que a mulher não tenha a mesma cabeça que a mulher tradicional e que saiba usar seu lado masculino a favor do altruísmo. Isto porque homens e mulheres, todos têm um lado masculino e um lado feminino, mais fortes em uns do que em outros.
Este fato é muito importante para o equilíbrio da relação entre os gêneros, para que haja uma compreensão mútua entre homens e mulheres, a única coisa que poderá salvar o planeta. Isso não acontece quando o homem tem um domínio absoluto sobre as mulheres e sobre o mundo.
Em um artigo extraordinário, publicado no Jornal do Brasil Digital, na última segunda-feira, 05 de março, o filósofo e teólogo Leonardo Boff mostra que “em 540 milhões de anos, a Terra conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada 100 milhões de anos, exterminando grande parte da vida no planeta. A sexta está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo Brian Swimme”.
É isso que dá o domínio de um gênero – masculino – sobre o outro. No tempo em que pudermos ter uma reciprocidade, isto é, em que homens e mulheres respeitem suas características e diferenças, poderemos reverter esta terrível realidade…
Refazendo aqui a frase que acabo de citar, vou novamente reler a frase de Leonardo Boff.
Há muito que biólogos e cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva intervenção aos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de anos. Essas extinções misteriosamente pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos, ela conheceu cinco grandes extinções em massa, praticamente uma em cada 100 milhões de anos, exterminando grande parte da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos, quando foram dizimados os dinossauros, entre outros.
E é isso que dá o domínio de um gênero, masculino, sobre o outro. No tempo em que pudermos ter uma reciprocidade, isto é, em que homens e mulheres respeitem suas características e diferenças, poderemos reverter essa terrível realidade, iniciando um novo paradigma civilizatório. Esse tempo só virá quando homens e mulheres repartirem entre si o poder, como já está acontecendo no Brasil.
Quando homens e mulheres forem irmãos, um novo futuro diferente e democrático poderá ter início. E já está se iniciando. No segundo decénio do século XXI, a maioria da juventude feminina e masculina do mundo inteiro está se reunindo nas ruas da África, do Oriente Médio, da Europa e dos Estados Unidos, em busca de um novo mundo democrático, que nunca conhecemos, enquanto uns dominavam os outros. Eles estão dando seu sangue e suas vidas por este futuro.
E serão eles, com a utilização de uma tecnologia que funciona à velocidade da luz, em tempo real – os computadores ligados às redes sociais – que, espontaneamente, sem ideologia nenhuma, estão abrindo os novos caminhos do novo paradigma civilizatório, exigindo que homens e mulheres tenham o mesmo senso de justiça e cuidado com o planeta. Isso começa a acontecer no Brasil, no Governo da nossa Presidenta, uma mulher que une uma força férrea em prol da justiça social e do fim da miséria a um altruísmo incorruptível.
Como recomenda Leonardo Boff, em seu livro O Despertar da Águia – Editora Vozes, 1999 – nós, homens, precisamos compreender que, para efetivamente construirmos uma sociedade civilizada e justa, será muito importante que no comando de nossas organizações, nos mais diversos campos público e privado, estejamos alternando ora homens ora mulheres. Isso é necessário porque a mulher tem certas características, qualidades e sensibilidades diferentes das de nós homens, as quais são importantes para o aperfeiçoamento de nossas instituições e para o avanço da humanidade.
Aqui desejo fazer um parêntese para parabenizar o pensador, filósofo e escritor Leonardo Boff, que é autor com Mark Hathaway, do livro O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação, publicado pela Editora Vozes, em
Ao cumprimentar as mulheres brasileiras – e o faço na pessoa de V. Exª, Senadora Marta Suplicy, que preside os nossos trabalhos – pela passagem do seu Dia Internacional, considero muito importante estimular o crescimento do novo papei que as mulheres cada vez mais têm ocupado em todos os campos do poder, principalmente nas posições de liderança política e empresarial de nossa sociedade. A sensibilidade feminina aliada à perseverança que caracteriza a mulher são fatores decisivos para a melhora do meio ambiente e da vida em nosso planeta.
Quero também encaminhar à Mesa do Senado, Srª Presidenta, dois requerimentos para serem apreciados: primeiramente, pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e, depois, pelo Plenário.
O primeiro requer que sejam transmitidos ao Governo dos Estados Unidos da América o apelo e a manifestação do Senado Federal no sentido de que os Estados Unidos da América suspendam o bloqueio econômico e comercial a Cuba, libertando os cidadãos cubanos que se encontram presos em seu território por motivos públicos – como é o caso de Tony Guerrero, Fernando González, Ramón Labañino, Gerardo Hernández Nordelo e René González –, bem como fechem, definitivamente, a prisão instalada na Base de Guantánamo. E, para o Governo de Cuba, o apelo e a manifestação do Senado Federal no sentido de que Cuba providencie o indulto geral aos aprisionados por posicionamentos políticos ou de consciência e autorize todos os seus habitantes a poderem entrar e sair de seu país, mesmo aqueles como a blogueira Yoani Sánchez, que criticam o regime político estabelecido na ilha.
Regimentalmente, esses requerimentos devem ser dados como lidos e devem ser designados relatores amanhã, na Comissão de Relações Exteriores, para depois serem apreciados na reunião da próxima semana e, em seguida, pelo Plenário do Senado.
Para concluir, Srª Presidenta, eu quero saudar, mais uma vez, os ciclistas – o que já havia aqui feito logo ao entrar hoje – e também saudar a Srª Beth Davison e seu marido, os pais do Pedro Davison, vítima como a Juliana Dias, que infelizmente faleceu, na semana passada, em acidente na Avenida Paulista, para pedir que haja maior respeito a todos os ciclistas. Observamos aqui que há, entre os ciclistas, praticamente o mesmo número de mulheres quanto de homens. Agora, é importante que venhamos a nos dar as mãos, como também aos universitários da Unesp, que estão equilibradamente aqui presentes, homens e mulheres. Que possamos sempre pensar em como viver em uma cidade melhor, onde as bicicletas tenham o direito de ser manejadas pelas pessoas…
(Interrupção do som. A Srª Presidente faz soar a campainha.)
O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Muito obrigado.