Patrimônio Nacional

Eletrobras completa 60 anos sob ameaça de entreguistas

Maior empresa energética da América Latina completa no sábado (11) seis décadas de existência acionando o motor da industrialização e iluminando o Brasil
Eletrobras completa 60 anos sob ameaça de entreguistas

Foto: Agência PT

Neste sábado (11), a indignação e a luta tomarão o lugar da alegria no aniversário de 60 anos da Eletrobras. Caso se concretize, a oferta de ações marcada para a segunda-feira (13), na qual será dissolvida a participação majoritária da União na estatal, caracterizará um dos maiores crimes contra a soberania nacional da história e fará o Brasil retroceder aos tempos em que os constantes apagões estavam na boca do povo.

“Rio de Janeiro / Cidade que nos seduz / De dia falta água / De noite falta luz” (Vagalume, por Violeta Cavalcanti). “Acende a vela, Iaiá / Acende a vela / Que a Light cortou a luz / No escuro eu não vejo aquela / Carinha que me seduz” (Acende a Vela, por Emilinha Borba). No carnaval de 1954, dois dos maiores sucessos da folia narraram dessa forma a precariedade do sistema elétrico brasileiro, na ocasião dominado pelo setor privado.

Na época, a geração e a distribuição de energia eram repartidas entre a estadunidense Amforp e a canadense Light. A produção de eletricidade era pífia e as redes de distribuição eram pequenas e isoladas. As empresas não conseguiam atender à demanda crescente em meio à urbanização e à industrialização aceleradas do país.

Um mês após aquele carnaval, o então presidente Getúlio Vargas enviou ao Congresso projeto de lei autorizando o governo a fundar a Eletrobras, iniciando um processo que só se concluiria em 11 de junho de 1962, quando João Goulart criou as Centrais Elétricas Brasileiras SA. Nascia a maior empresa energética da América Latina, hoje ameaçada pela privataria 2.0 de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes.

Verdadeiro estadista, Vargas sabia que o governo só conseguiria garantir o suprimento energético necessário à industrialização do país se contasse com uma empresa estatal encarregada de planejar o sistema elétrico nacional, construir usinas e erguer torres com linhas de transmissão. Princípio adotado até hoje pelos quatro maiores produtores de energia do mundo – China, Canadá, Estados Unidos e Brasil (até agora).

Motivado pela recente criação da Petrobrás, aprovada pelos senadores e deputados poucos meses antes, Vargas não imaginava que enfrentaria tamanha resistência. Temendo perder mercado, Light e Amforp se lançaram em campanha feroz para impedir o processo, que se arrastou pelas comissões do Senado e da Câmara e só saiu do papel oito anos e quatro presidentes da República depois.

Alguns meses após enviar o projeto ao Congresso, em agosto de 1954, Getúlio Vargas se suicidou no Palácio das Laranjeiras. Antes de dar um tiro no coração, o presidente deixou seu testemunho em carta-testamento, acusando grupos antinacionalistas pela insana campanha oposicionista que o levou à decisão extrema.

“A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. Quis [eu] criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás. Mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente”, descreveu o presidente que “saiu da vida para entrar na história”.

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