Gleisi: “Os protestos não traduzem o sentimento do conjunto do país”A senadora Gleisi Hoffmann (PT), em sua coluna semanal, comenta as manifestações deste dia 13 de março, e a sua despolitização. Segundo ela, apesar de os protestos serem expressivos e legítimos, quem participou continua sendo a classe média mais tradicional, não traduzindo o sentimento de conjunto do país; as bandeiras mais naturais e urgentes como emprego, renda, juros, salários, investimentos, programas sociais, saúde, educação foram esquecidas; e tudo resumiu-se ao combate seletivo da “corrupção” e à criminalização do PT, Lula e Dilma. Para a senadora, a sensação é de que se “tirar Dilma do governo, prender Lula e acabar com PT, solucionaria tudo, seguraria inclusive o ímpeto da Lava Jato”.
Leia a íntegra da coluna:
13 de Março, uma despolitização perigosa
O Brasil não precisa de política, de políticos, de partidos. A imprensa e o judiciário, aliás um juiz, darão conta dos problemas que acometem nosso país. Do enfrentamento à corrupção ao resgate da ordem. Tudo com muita indignação, ruas cheias de verde e amarelo, povo branco, bem tratado, com inimigo definido. Foi esse o retrato que ficou na minha cabeça das manifestações deste 13 de março.
Longe de minimizar, reconheço que os protestos foram expressivos e legítimos, mas sua base social, o perfil de quem participou, não trouxe mudanças, continua sendo a classe média mais tradicional. Não traduzem o sentimento do conjunto do país. Se estamos em uma crise econômica sem precedentes, como todos falam, inclusive os empresários que patrocinaram os atos, onde estavam as reivindicações da economia?
Emprego, renda, juros, salários, investimentos, programas sociais, saúde, educação?!
Onde estava o povo trabalhador e mais pobre deste país? Certamente assistindo as manifestações, procurando entender a que interesse tudo isso atende. Combater a corrupção? Talvez?! Mas por que não fizeram antes? E por que são tão seletivos? Desconfiado, o povão prefere aguardar para saber ao certo qual será o resultado para sua vida. Segue desconfiado e à margem de liderar um processo efetivo de mais mudanças.
A aposta na despolitização do processo é flagrante. A canalização do ódio e criminalização ao PT, Lula e Dilma, foram minuciosamente construídas. Dia após dia, nos telejornais, jornais, na mídia deste país. Os que deram condições aos mais pobres de terem dignidade estão sendo escorraçados pela classe média e pela elite brasileira, cujos valores autoritários ficaram visíveis nas atitudes e palavras de ordem dos protestos.
A “isenção” política foi caracterizada pela ausência de bandeiras partidárias e vaias a políticos oportunistas que tentaram participar. Mas foram o PT, Lula e Dilma que canalizaram o ódio contra a política e simbolizaram o mal que ronda o país, segundo os manifestantes.
Parece que tirar Dilma, prender Lula e acabar com PT, solucionaria tudo, seguraria inclusive o ímpeto da Lava Jato. Necessidade para que alguns políticos se salvem e, com discrição, cumpram o papel que a imprensa e a elite deles querem.
Sem falar com a imensa maioria da população que não foi às ruas, principalmente com aqueles mais pobres, beneficiados pelos programas e ações de governo, dando-lhes perspectivas de futuro, com um posicionamento claro do governo em relação à economia, a garantia de suas conquistas e a ampliação de seus direitos, a elite mais conservadora e fascista dará seu golpe amparado na participação ativa de parte da população que acredita estar de fato combatendo a corrupção e resgatando o Brasil do mal.
Nas ruas, bolsonaros falaram mais alto que democratas!
É preciso reconhecer a gravidade da situação e agir com rapidez para implementar soluções. E o governo, por definição, tem condições de atuar para diminuir a crise, refazer sua base e reconquistar o apoio da maioria da população.
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