Faltam cadeiras para acomodar |
Enquanto a área reservada aos parlamentares na sala onde se desenvolve a CPI da Petrobras está vazia – com nenhum dos senadores do PSDB e do DEM presentes, pois ambos os partidos recusam-se a participar da CPI, mesmo depois de terem ido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para reivindicar o “direito da minoria” para instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito, no fundo da sala, ao contrário, faltam cadeiras para acomodar a legião de repórteres escalados para acompanhar a inquirição do ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró.
Os sites G1 e TV Folha retransmitem ao vivo o sinal da TV Senado, ao passo que o site do jornal O Globo suspendeu, sem explicações, o acompanhamento minuto a minuto da CPI, como na última terça-feira (20), quando a CPI interrogou o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
A reunião de hoje teve início às 10h15 e Nestor Cerveró fez uma explanação inicial por cerca de 22 minutos. Praticamente repetiu o que disse há um mês, quando esteve presente na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados. A compra da refinaria fazia sentido estratégico para o momento de 2006, reiterou Cerveró, quando os preços dos combustíveis no mercado norte-americano garantiriam margens de lucro consideráveis. Outra estratégia era a empresa estar presente em outros países, tanto é que nos cinco anos em que foi diretor da área internacional, o número de países com escritórios da Petrobras saltou de 8 para 26.
Mais uma vez, Cerveró explicou que, nos contratos de associação entre grande empresas, é comum a presença de cláusulas como a cláusula de saída, chamada, em inglês, de put option. Essa cláusula é exercida quando um sócio decide sair do negócio e o outro, que geralmente detém a outra metade em participação, tem a prerrogativa de ser o primeiro a dizer se deseja ou não comprar a parte do sócio. Isso foi o que aconteceu entre a Petrobras e sua sócia na refinaria Pasadena, a empresa belga Astra Oil, uma comercializadora de combustíveis nos Estados Unidos.
Outra cláusula que se tornou conhecida no intenso (e confuso, impreciso) noticiário com relação à compra da refinaria de Pasadena é a cláusula de Marlim. Ao contrário do que a mídia bombardeou à exaustão, ela sequer entrou em vigor. Cerveró explicou: essa cláusula estipulava que Pasadena iria refinar o petróleo pesado extraído do campo de Marlim, na Bacia de Campos, que em 2006 figurava entre os maiores blocos exploratórios da Petrobras.
Em virtude da diferença de preços entre o petróleo pesado (mais barato) e o petróleo leve (mais caro), explicou Cerveró, a diferença seria de US$ 3,50 por barril e esse valor equivalia a um retorno de 6,9% sobre o total de barris refinados.
Mas a campanha de desinformação dos jornais sobre a compra de Pasadena insinua que a Astra Oil receberia esses 6,9% de rentabilidade por conta da cláusula Marlim, embora ela não tenha sido aplicada em momento algum. Para os padrões da mídia brasileira, tanto faz. Mesmo não tendo sido aplicada, ainda hoje jornais e sites de informação referem-se à cláusula Marlim como se ela tivesse existido.
Marcello Antunes