As investidas incendiárias de Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral e as instituições encontram, cada vez mais, uma firme resistência da sociedade civil organizada. O recado é claro: o país não está disposto a arriscar as conquistas democráticas das últimas décadas por uma volta a um passado de trevas. A reação à escalada autoritária do extremista de direita se espalha pelos mais diversos setores do país. Na quinta-feira(5), o manifesto pela defesa do sistema eleitoral ganhou o peso do setor empresarial. Os empresários temem as consequências das constantes turbulências institucionais causadas por Bolsonaro para o ambiente de negócios. Um dia após ser divulgado, o documento passou de 267 assinaturas para mais de 6 mil adesões.
“Os repetidos ataques do presidente à democracia e suas instituições vão acabar colocando em risco a recuperação econômica. O país precisa urgentemente de trabalho e serenidade”, disse o banqueiro Ricardo Lacerda, sócio-fundador do BR Partners, à Folha de S. Paulo.
“Uma crise institucional sem precedentes recentes está em estágio embrionário”, opinou o investidor Lawrence Pih. “Bolsonaro está construindo uma retórica pré-golpe de estado. Se a sociedade não reagir com veemência e força, à altura do desafio que o presidente lança contra o povo, estaremos caminhando para uma ditadura bem pior do que 1964”, alertou o empresário.
De acordo com os autores, outros representantes da iniciativa privada também aderiram ao manifesto, como Eduardo Mufarej, Guilherme Affonso Ferreira, José de Menezes Berenguer Neto e Reinaldo Pamponet. O ex-chanceler Celso Amorim e os acadêmicos José Álvaro Moisés e Lilia Moritz Schwarcz, além do ex-jogador Raí também se juntaram ao grupo.
CPI apoia decisão de Fux
A reação da sociedade civil ganhou mais peso no mesmo dia em que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux anunciou o cancelamento da reunião entre os Três Poderes após uma série de ataques de Bolsonaro colocando em xeque a segurança da urna eletrônica e desferindo ofensas aos ministros da Corte e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ainda na quinta-feira, a cúpula da CPI da Covid emitiu nota de apoio a Fux e aos demais ministros do STF e do TSE, em especial o presidente Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, responsável pela inclusão do nome de Bolsonaro no inquérito das fake news.
“É inegável que o presidente da República, como método, tenta deslegitimar as instituições e ataca sistematicamente o Judiciário. Expediente autoritário de lembranças funestas”, advertem os parlamentares da CPI, na nota.
Ao tentar esconder o fracasso total de seu governo no combate à pandemia, na geração de empregos e na melhora de vida dos brasileiros, Bolsonaro ultrapassou todas os limites com suas mentiras sobre urnas eletrônicas. Agora, ele está vendo uma reação à altura. pic.twitter.com/3EO9XH89Ug
— Humberto Costa (@senadorhumberto) August 5, 2021
“A própria CPI tem sido alvo de tentativas de intimidações por parte do Executivo”, lembraram os senadores. “Em tempos sombrios, quando as piores pessoas perdem o medo, cabe às melhores não perderem a coragem em defender a democracia”, observa a nota assinada por Omar Aziz, Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros, Otto Alencar, Humberto Costa, Tasso Jereissati, Alessandro Vieira, Rogério Carvalho, Simone Tebet e Eliziane Gama.
O crescimento do repúdio ao golpismo de Bolsonaro reafirma que, ao contrário do que alega a narrativa dos extremistas, a defesa do Estado de Direito deixou de ser identificada como apenas um “esperneio” da esquerda.