1990. O Brasil engatinhava no retorno à democracia. O presidente eleito, Fernando Collor de Mello, ensaiou um Plano Econômico que confiscou as economias de milhões de brasileiros e 15,5% da população estava abaixo da chamada “linha de pobreza” – o que significa dizer que esses homens, mulheres e crianças viviam com menos de R$1,25 por dia. Eles eram nada menos que 24,625 milhões de cidadãos.
2009. O Brasil vive uma democracia já consolidada e o presidente é Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, está em seu segundo mandato. O País experimenta uma estabilidade econômica inédita e o percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza era, então, de 3,2% do total de cidadãos. Em números absolutos, 6,127 milhões de pessoas.
Segundo estudo da pesquisadora brasileira Maria Silvério, mestranda em antropologia na área de migrações, globalização e multiculturalismo no Instituto Universitário de Lisboa, o dado é revelador. Entre as cinco maiores economias emergentes, o Brasil foi a que mais diminuiu a desigualdade socioeconômica nas últimas décadas. O estudo foi concluído no ano passado e demonstra a concretização de uma das bandeiras históricas de um partido fundado ainda no início da década de 80 por um operário que, não por coincidência, era o presidente do País no exato momento em que a pesquisa aponta a reveladora queda no índice de desigualdade.
Vale dizer que a desigualdade continua caindo e que, de acordo com outro estudo, publicado em novembro do ano passado, o Brasil é o país que mais investiu em bem-estar social de sua população nos últimos cinco anos e os programas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, contribuíram de maneira decisiva para esse resultado. O levantamento, da consultoria Boston Consulting Group (BCG), foi realizado entre 150 países e publicado na edição de 27de novembro do Jornal Valor Econômico. Esse estudo apontava que o País foi o que mais utilizou seu crescimento econômico para garantir a elevação do padrão de vida de sua população. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a um ritmo médio anual de 5,1% entre 2006 e 2011, os ganhos sociais obtidos no período são equivalentes aos de um país que tivesse registrado expansão anual de 13% da economia – ou seja, mais do que o dobro do crescimento econômico brasileiro.
A pesquisa de Maria Silvério mostra que, entre as cinco maiores economias emergentes – os chamados Brics (grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nós somos o único que “conseguiu diminuir consideravelmente a desigualdade de renda nos últimos 20 anos”, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo correspondente Gilberto Costa, da EBC, em Lisboa.
Ou seja, os governos recentes, depois de fazerem “crescer o bolo”, como dizia o “guru” da economia Antonio Delfim Netto, partiram para a distribuição cada vez mais igualitária das fatias. Enquanto isso, os outros países emergentes concentravam ainda mais suas rendas, segundo o mesmo estudo.
Em vinte anos, percentual de brasileiros que vivem |
“O Brasil é o único país que conseguiu diminuir consideravelmente a desigualdade de renda nos últimos 20 anos, saindo de um Gini de 0,61 em 1990 para 0,54 em 2009 – menor índice de sua história”, atesta a pesquisadora. Coeficiente de Gini é um índice criado pelo estatístico italiano Corrado Gini para comparar realidades socioeconômicas entre países. Nessa lógica, zero representa a total igualdade de renda.
Outra conquista do País é que os 20% mais pobres e os 20% de renda média foram os principais beneficiados pela nova realidade socioeconômica. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), na primeira década do século XXI, os 10% mais ricos tiveram um crescimento na renda real de 10,03% contra 67,9% na renda dos 50% mais pobres, o que significa um crescimento 577% maior do que o alcançado pela parcela no topo da pirâmide social.
Na verdade, quando se compara o que ocorreu com a renda de mais pobres e mais ricos no Brasil com os resultados dos outros países do Brics, fica claro que a desconcentração de renda depende de uma série de fatores mas, principalmente, de uma determinação e da prática dos governos que os administram. Políticas voltadas para a redistribuição de renda e para a redução da miséria, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, tem se mostrado cada vez mais eficientes e os dados da pesquisa são claras demonstrações dessa determinação. Reduzir o abismo entre pobres e ricos e desconcentrar a economia são bandeiras históricas do Partido dos Trabalhadores.
Crescimento econômico
Na opinião de Maria Silvério, a diminuição da desigualdade e o consequente aumento da classe média podem favorecer o crescimento da economia brasileira. “Normalmente, o que mais faz um país crescer é a classe média, que consome muito. Por ser classe média, tem expectativa de crescer mais ainda – o que fomenta a economia com maior circulação de bens e a compra de automóveis e imóveis”; avalia.
Além do coeficiente de Gini, Maria Silvério comparou a situação de homens e mulheres, a escolaridade e o acesso à saúde no Brics. À exceção da África do Sul, aumentou a expectativa de vida e diminuiu a mortalidade infantil entre as economias emergentes nos últimos 20 anos. O Brasil apresentou o maior crescimento da expectativa de vida (7,2 anos) e tem, juntamente com a China, a população com idade mais longeva (73,5 anos), em média.
Giselle Chassot com informações do site Observatório das Desigualdades
Foto: Blog do Bolsa Família
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