O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho, é médico sanitarista, com doutorado em saúde pública. Foi secretário de Saúde do governo de Sergipe. Nada disso o impediu de contrair a covid-19. E de se surpreender com reações inesperadas com a doença. Com ele, os sintomas não envolveram febre nem problemas respiratórios. Carvalho teve no princípio dores abdominais, diarreia e vômito. Mas, dez dias depois, em vez de febre, sua temperatura baixou bruscamente, provocando hipotermia. Era o princípio de um processo de microcoagulação, que, se agravado, poderia evoluir para um grave problema. “É uma doença perigosa e traiçoeira”, diz o senador. “Por isso, precisava ter sido combatida com ciência, o que, infelizmente, não aconteceu no país”, afirma ele, nesta entrevista ao Jornal de Brasília. Para Carvalho, a politização da pandemia, com os posicionamentos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, estão fazendo com que a doença se prolongue por mais tempo, agravando as suas consequências.
O senhor é médico sanitarista, foi secretário de Saúde de Sergipe, além de senador, o que já o credenciaria a falar sobre a condução do país na pandemia da covid-19. Mas, além disso, o senhor contraiu o novo coronavírus. O que poderia contar a respeito da sua experiência pessoal com a doença?
Estamos vivendo uma situação muito complexa no Brasil em função das interferências e da politização que houve do combate à pandemia. Uma doença provocada por um vírus desconhecido, altamente contagioso. Não existe vacina nem um medicamento específico para tratá-lo. Vírus, diferentemente de bactérias, é muito difícil você desenvolver uma terapêutica específica. O modo de atuação dele é mais específico. Então, você tem que produzir uma droga específica para aquele vírus, uma vacina específica para aquele vírus. Como ele é muito contagioso e tem uma taxa de letalidade relativamente alta – para 200 pessoas contaminadas, você pode ter de uma a duas mortes. É uma taxa enorme. A politização que aconteceu no Brasil atrapalhou a principal medida de controle da expansão da pandemia. Porque se você não tem medicação nem tem uma vacina, precisa controlar a entrada de pessoas nos hospitais para assegurar aos serviços de saúde condições de assistir a todos. Além disso, a gente fecha, abre, fecha, abre, fecha parcialmente, abre antes da hora por causa da pressão e da ausência de um comando central, ou de um comando central equivocado. Um presidente estimulador da ideia da imunidade de rebanho, deixar as pessoas adquirirem a doença com a ideia de que com isso elas ficarão imunizadas naturalmente e, com isso, se evitar o colapso da economia. Isso tudo foi um equívoco. Que, ao contrário, levou a essa desorganização e a um alongamento da expsansão da covid por muito tempo. Neste momento, estamos vivendo um outro pico. Tivemos um pico há 30 dias, estamos vivendo agora um outro pico, e vamos ter um outro pico. Ou seja, algo que era para a gente encerrar em maio, nós só vamos encerrar em outubro, na melhor das hipóteses. E só vamos deixar de ter casos lá para dezembro ou janeiro de 2021, por conta dessa politização e dos erros cometidos no combate à pandemia.
O senhor contraiu o novo coronavírus. Como foi?
Veja como essa doença é traiçoeira e perigosa. Eu viajei de Brasília de carro. Mantive contato com uma pessoa que testou positivo. Ela viajou comigo. Quando chegou a Aracaju, se sentiu mal e testou positivo. Eu estava em casa com minhas três filhas, minha enteada, minha mulher, o caseiro, a babá da minha filha e meu genro. Nove pessoas. Eu transmiti para oito pessoas. Veja como é contagiosa. Essa foi minha experiência familiar, todos em casa com covid sem poder sair. E é uma doença muito perigosa e que tem reações que às vezes você não prevê. Ela é inesperada. Eu tive os primeiros sintomas que me levaram a fazer os exames. E não foi falta de ar, nada respiratório. O que eu senti foram dores abdominais, diarreia e vômito. Isso durou um dia e meio. Depois, melhorei. Dez dias depois, eu tive uma queda de temperatura. Não febre. Queda de temperatura. Tive uma hipotermina. E não era falta de ar, mas uma fraqueza. O que representa isso? Já comprovaram que o coronavírus produz microcoagulações, rompimento de microvazos.