Lula no JN

Entrevista de Lula ao JN é histórica, avaliam senadores

Além da audiência na TV, sabatina ao vivo provocou postagens de 15 milhões de pessoas nas redes sociais; mais do que as de Bolsonaro e Ciro, juntas, revela Quaest.
Entrevista de Lula ao JN é histórica, avaliam senadores

Ricardo Stuckert

Estadista; gigante; deu aula; foi de coração aberto; um show de democracia. Como numa espécie de jogral espontâneo, senadores do PT se juntaram a milhares de vozes nas redes sociais em adjetivos e expressões elogiosas à entrevista, nesta quinta-feira (25), de Luiz Inácio Lula da Silva ao Jornal Nacional. Lula foi o terceiro candidato a presidente da República entrevistado pelo principal programa jornalístico da TV Globo.

Em 40 minutos, falou sobre corrupção, atuação dos órgãos de Estado, economia, geração de empregos, agronegócio, meio ambiente, política externa. E longe de seguir a gasta receita de profissionais de marketing – use uma pergunta para responder sobre outros assuntos -, Lula encarou de frente todas as perguntas, sem fuga.

Os primeiros 15 minutos foram de perguntas e respostas sobre corrupção e a atuação de órgãos de Estado. O ex-presidente já começou listando os mecanismos criados pelos governos do PT em nome da transparência e do combate à corrupção e a outros ilícitos na administração pública. Portal da Transparência; Lei de Acesso à Informação; leis anticorrupção, de combate ao crime organizado e de livre concorrência; assim como o aperfeiçoamento da lei contra a lavagem de dinheiro.

Tudo foi em mandatos do PT, que se pautaram também pela escolha de indicados em lista tríplice para procurador Geral da República e, historicamente, lutam pela independência do Ministério Público e pela atuação sem amarras de órgãos como a Polícia Federal.

Sem rancores, respondeu sobre a perseguição que sofreu da Operação Lava-Jato, lamentando que o processo tenha invadido o campo político com o objetivo de condená-lo. E, ainda, que tenha servido para quebrar a indústria nacional. “Os países investigam corrupção sem quebrar empresas”, advertiu o ex-presidente e candidato, ressaltando, ainda, que em seu governo houve liberdade de investigação e nada de acobertamento.

“Eu poderia ter escolhido um promotor engavetador. Mas escolhi da lista tríplice. Poderia ter escolhido um delegado da Polícia Federal que eu pudesse controlar. Não fiz. Poderia ter feito decreto de 100 anos, que está na moda hoje” – enfileirou Lula, em resposta aos jornalistas da Globo, sempre duros nos questionamentos, ao contrário do que afirmaram alguns críticos nas redes sociais.

“Acusaram a Globo de privilegiar o presidente Lula na entrevista de ontem. Tenho que reconhecer que isso aconteceu. Permitiram a entrada no estúdio de um candidato com alma, cérebro e coração” – ironizou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), ao elogiar o comportamento de Lula.

Economia
A partir dos 15 minutos, a economia deu o tom da entrevista. Lula lembrou que pegou um país quebrado. “Quando tomei posse em 2003, o Brasil tinha 10,5% de inflação, 12% de desemprego, devia 30 bilhões ao FMI, nós tínhamos uma dívida pública de 60,4%” – listou, para, em seguida, elencar avanços promovidos pelos governos petistas, como o pagamento da dívida externa, empréstimo feito ao FMI e a herança bendita de reserva cambial de US$ 370 bilhões. Além disso, com o PT o país caminhou com índices de inflação dentro da meta e reduziu a dívida pública de 60% para 38%.

“Lula fala de coração aberto aos brasileiros e brasileiras, sempre com muita força, vontade de trabalhar e toda a experiência capaz de cuidar do nosso povo e do nosso país!” – emocionou-se Fabiano Contarato (PT-ES). Esperança também manifestada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), que classificou como “gigante” o candidato entrevistado: “Lula só tem um time: o time do desenvolvimento, do amor, da comida na mesa e do emprego”.

Sobre o governo Dilma Rousseff, sua sucessora na Presidência, Lula reafirmou seu respeito e gratidão à ex-presidenta, e pontuou avanços e problemas. “Ela fez um primeiro mandato extraordinário, porque a crise internacional se agravou, e ela manteve o índice de desemprego em 4,5%, o menor da história desse país”. Por outro lado, lembrou que a desoneração de alguns setores da economia foi um nó difícil de desatar, muito em razão de uma “dupla dinâmica” – Eduardo Cunha e Aécio Neves – que impediu Dilma de governar no segundo mandato.

Diálogo
A relação com o Congresso Nacional também teve destaque na entrevista. Lula criticou o orçamento secreto, “uma usurpação do poder”, que deixa o presidente refém do Congresso Nacional. Lula também apelou ao eleitor para que vote em deputados federais “com outra cabeça”, e afirmou que, em sendo eleito, ele e Geraldo Alckmin, seu candidato a vice, vão trabalhar para “acabar com o semipresidencialismo” instalado no país.

A disposição permanente ao diálogo e a forma de enxergar a relação com o Congresso foram elogiadas pelo senador Humberto Costa (PT-PE), que agora passa a coordenar a Campanha Lula não apenas em seu estado, mas em todo o Nordeste. “Lula não deu entrevista. Ele deu aula! Falou como estadista. É o presidente de que o Brasil precisa para vencer o ódio e construir o futuro” – comemorou o senador.

Amigos de volta
Os últimos minutos de entrevista foram dedicados a temas como relação com o agronegócio, o MST e a política externa. “Não tem nenhum governo que tratou do agronegócio como nós tratamos”, afirmou, lembrando MP que renegociou R$ 85 bilhões com os produtores rurais, em 2008, de forma a evitar a quebra do setor.

Lula fez questão de lembrar a atuação do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra, “maior produtor de arroz orgânico do país”, e convidou a jornalista Renata Vasconcellos a conhecer uma das cooperativas do MST.

Assunto caro à campanha e ao partido, o meio ambiente foi citado por Lula também como uma ferramenta econômica. O ex-presidente manteve seu
compromisso com a preservação dos biomas nacionais e acrescentou a intenção de incentivar a bioeconomia, com indústrias voltadas aos fármacos e aos cosméticos, sem derrubada de florestas.

Na política externa, questionado sobre eventual apoio a governos supostamente autoritários, Lula respondeu com a leveza de quem carrega
consigo elogios de todo o mundo na área das relações internacionais. Reafirmou o respeito à autodeterminação dos povos e, sorrindo, avisou que muitos dos amigos do Brasil que andam sumidos vão reaparecer em janeiro caso ele seja eleito presidente da República.

A leveza, o sorriso aberto e a franqueza foram notados pelo senador Jaques Wagner (PT-BA), que resumiu os 40 minutos com Lula no Jornal Nacional: “não foi uma entrevista, foi um show de democracia. Lula representa aquilo que o Brasil precisa e quer: esperança, prosperidade e alegria”.

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