Especialistas ouvidos nesta terça-feira (09/11) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado afastaram o risco de o Brasil enfrentar uma bolha financeira desencadeada pela multiplicação do crédito para o consumo, de forma parecida ao que aconteceu nos Estados Unidos. Alguns, no entanto, fizeram advertências em relação ao crédito imobiliário.
“O grande problema é o crescimento muito rápido, que tem que ser olhado pelo Banco Central com medidas regulatórias, e até, se for o caso, exigindo entradas mais elevadas para a compra de imóveis. Se o país crescer menos, podemos ter nessa área um pouco mais de inadimplência”, comentou o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes.
O debate, sobre o endividamento da população brasileira, foi sugerido pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), para quem “a economia está bem, mas o país vai mal”. O senador manifestou preocupação com o avanço do endividamento da população – de 14,6% em 2003, para 22,2% em abril de 2010, sem considerar o crédito imobiliário.
Alavancagem
Um ponto comum, citado pelos especialistas, foi o de que as elevadas taxas de juros praticadas no país, de modo geral criticadas, funcionam por si mesmas como uma proteção contra bolhas de crédito. Isso porque os bancos não precisam forçar os níveis de alavancagem (emprestar acima de níveis seguros) para ampliar os lucros, como aconteceu nos Estados Unidos. “Aqui basta emprestar um pouquinho que [os bancos] já ganham uma fortuna”, observou Carlos Thadeu.
Dos quatro expositores, quem se mostrou mais preocupado com a expansão do crédito foi o economista José Márcio Camargo. Ele chamou a atenção para o fato de o endividamento ter crescido mais no segmento da população de baixa renda. Observou que a capacidade de pagamento depende diretamente do mercado de trabalho, sujeito a flutuações que podem levar ao aumento da inadimplência e, como resultado, tirar a sustentação do setor financeiro.
Visão do BC
O diretor do Banco Central, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, destacou os bons indicadores econômicos e sociais nos últimos anos, resultando em maior mobilidade social, consumo e acesso aos serviços bancários. Disse ainda que quase 162 milhões de brasileiros são hoje clientes de bancos, praticamente o dobro de 2002. Quanto ao crédito, observou que sua relação com o Produto Interno Bruto (PIB) chega esse ano a 48,4%, quase dobrando desde 2005.
Ainda assim, o diretor garantiu que o BC consegue acompanhar rigorosamente as operações do sistema bancário, reunindo condições de fazer análises profundas e agir diante de riscos. Segundo ele, o BC tem informações detalhadas de todas as operações de crédito acima de R$ 5 mil. Acompanha cerca de 137 milhões de operações acima de desse valor, que envolvem cerca de 32 milhões de devedores.
O economista Raul Velloso focou sua exposição nas dificuldades que o país encontra para investir, o que seria um problema para a manutenção do crescimento do consumo privado sem o risco de inflação. De acordo com Velloso, o problema é baixa poupança interna, devido ao nível crescente dos gastos públicos, sobretudo das despesas correntes. Desde 2008, conforme assinalou, enquanto o PIB cresceu 162%, o gasto corrente da União subiu 254%.
“A questão é se isso deve continuar ou se deve ser repensado, pelo que implica em termos de investimento e crescimento”, afirmou Velloso.
Agência Senado
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