São muitas as falas, inclusive de setores mais a esquerda, de que o país deve ter como prioridade a estabilidade política e institucional neste momento, e que a garantia para isso é a Constituição. Ou seja, que a iminente saída de Temer deve ser resolvida pela eleição indireta, como forma de garantir uma travessia pacífica até 2018.
Engraçado é que o argumento da constitucionalidade é usado depois que a Constituição foi sistematicamente desrespeitada, rasgada. Estamos vivendo o que vivemos pelo desrespeito a constitucionalidade. Fizeram um impeachment sem base constitucional, por isso um golpe, desmontaram direitos constitucionalmente previstos, fazem reformas contra o que determina a Constituição e agora querem utilizá-la para continuar as safadezas?!
A única forma de pacificar o país e defender a democracia é buscar nas cláusulas pétreas da Constituição a saída para a crise: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes ELEITOS ou diretamente, nos termos desta Constituição” (parágrafo único art 1). Portanto, a saída constitucional para uma crise dessa dimensão, é eleições diretas. Qualquer coisa fora disso é a continuidade do golpe. É continuar com um Estado de Exceção, com uma ruptura democrática escancarada.
[blockquote align=”none” author=””]A confusão no país está grande, e não foi causada por aqueles que defendem radicalmente a democracia e os direitos do povo. Foi causada por aqueles que, em situação de crise econômica, pensam primeiro em seus interesses. Querem se apropriar do Estado, do poder, para resolverem os seus problemas de acumulação financeira.[/blockquote]
Foi isso que vimos com o impeachment da Dilma, com a aprovação da Emenda Constitucional 95 e, agora, estamos vendo com as reformas que caminham céleres pelo Congresso Nacional: desestruturação da Previdência e fim das garantias trabalhistas.
Quem defende a saída por eleição indireta é quem quer a continuidade da junta financeira que hoje governa o país e reduz o Estado brasileiro a mero instrumento de rentabilização de ativos dos ricos patrimonialistas e rentistas. Junta essa que já disse que permanece no governo seja ele qual for. Só será defenestrada por um governo eleito pelo povo, que jamais aprovará essas reformas nefastas e antipopulares.
O nosso compromisso é com o povo brasileiro e com seus direitos arduamente conquistados durante os últimos tempos. A estabilidade proclamada por essa gente do andar de cima, que quer eleição indireta, é para eles, para o mercado financeiro, para o acúmulo de capital e do poder econômico e midiático.
O governo que está aí é podre. Qualquer outro que entrar no seu lugar, por arranjo de interesses, votado por esse Congresso problemático, continuará podre, porém, com lustro novo para continuar os malefícios contra o povo e contra o Brasil. Somente o voto popular tem condições de restabelecer a normalidade democrática e o respeito aos direitos constitucionais.
Nossa energia e forças devem estar nas ruas, junto com o povo brasileiro, com os movimentos sociais e sindicais. Devemos radicalizar na defesa da democracia e no não reconhecimento de qualquer governo que não cumpra o preceito constitucional: ELEITO pelo povo!