Estado lava as mãos para a barbárie nos presídios

Estado lava as mãos para a barbárie nos presídios

Foto: Alessandro Dantas

Em artigo, o senador Paulo Paim (PT-RS) afirma que o Brasil assiste horrorizado as imagens que circulam pelas redes sociais de pessoas sendo decapitadas e esquartejadas dentro de presídios brasileiros. Além da situação de barbárie, o senador destaca que a população carcerária é obrigada a conviver com a superlotação de celas. “Um verdadeiro barril de pólvora”, resume.

Na avaliação de Paim, o Estado brasileiro, que deveria ser o mediador dessa situação – e de outros casos como a corrupção – é omisso com os problemas nacionais e “lava as mãos de forma covarde”.

E o que se presencia, isso não é de agora, vem de anos e anos, é uma disputa de poder pelo poder, de grupos ideológicos e partidários, sem projeto algum de nação. “[Isto] emperra o crescimento e o desenvolvimento equânime e socialmente justo do país, é o lucro acima de tudo, sem limite, custe o que custar, mesmo que para isso seja necessário passar por cima da dignidade humana”, diz.

 

Leia a íntegra do artigo:

Brasil, terra de ninguém

Todos nós estamos horrorizados com as imagens que circulam pelos grupos de WhatsApp mostrando as decapitações e esquartejamentos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus. Total de mortos: mais de 50. Ainda sob o impacto dessa carnificina, fomos surpreendidos por mais uma disputa de facções. Agora, no presídio Monte Cristo, na zona rural de Boa Vista, Roraima: 33 mortos.

Em setembro do ano passado, uma rebelião no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís do Maranhão, quase levou a uma imensa tragédia. Mas, em 2013, foi diferente: dez detentos acabaram morrendo. Houve também a rebelião de Picos, no Piauí, também no ano passado: dois mortos.

Outros acontecidos: Carandiru, São Paulo (1992), 111 mortos; Casa de Custódia de Benfica, Rio de Janeiro (2004), 31 mortos; Presídio Urso Branco, Rondônia (2002), 27 mortos; Pedrinhas, Maranhão (2010), 18 mortos.

Além dessa situação de barbárie, a população carcerária brasileira convive com a superlotação. Exemplo é o Presídio Central de Porto Alegre. Atualmente com 4,9 mil internos, três vezes a capacidade máxima. Um verdadeiro barril de pólvora. Esses casos não podem ser analisados fora do contexto.

Todos os dias, milhares de homens e mulheres de bem são assaltados e assassinados nas ruas, nas suas casas, na saída de seus empregos, ao deixar seus filhos nas escolas. Quantos policiais morrem no serviço, aliás, com péssimos salários e sem estrutura profissional; e quantos policiais também passam do limite, de forma opressora, em manifestações populares. Cada vez mais o tráfico de drogas se alastra pela sociedade, levando os jovens à morte e ao desespero de seus pais, familiares e amigos. Que país é este?

Sim, e o que dizer da corrupção que criou raízes nos setores público e privado, nas esferas municipal, estadual e federal, em todos os partidos. Segundo a ONU, o montante desviado no Brasil é de R$ 200 bilhões por ano. Já o impacto da sonegação, somente em 2016, segundo o Sindireceita, foi de R$ 500 bilhões. Pois são estas corrupção e sonegação que roubam a vida de milhares de cidadãos, de crianças, de idosos, que morrem por falta de remédio, de vacina, de leito de hospital, por falta de segurança. Sim, isto também é barbárie.

O Estado brasileiro, que deveria ser o mediador, é omisso com os problemas nacionais, lava as mãos de forma covarde. E o que se presencia, isso não é de agora, vem de anos e anos, é uma disputa de poder pelo poder, de grupos ideológicos e partidários, sem projeto algum de nação. As redes sociais estampam muito bem essa realidade e essas discórdias, antagônicas, do “bem” e do “mal”, do “certo” e do “errado”. Cada um acredita que está com a razão. Por outro lado, gravíssimo também, pois emperra o crescimento e o desenvolvimento equânime e socialmente justo do país, é o lucro acima de tudo, sem limite, custe o que custar, mesmo que para isso seja necessário passar por cima da dignidade humana.

Muito mais do que um alerta, é uma constatação: caminhamos a passos largos para o fim do pacto social construído na Constituição Cidadã de 1988, uma das cartas magnas mais avançadas do mundo. Situação gravíssima, pois é o desmoronamento dos pilares civilizatórios do nosso país. A quem interessa tudo isso? Salvadores da pátria?

Libertadores? Oportunistas? O cenário posto, portanto, é de intranquilidade e requer, sobremaneira, muita consciência de todos nós.

Paulo Paim é senador (PT-RS)

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