O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso radical, com críticas ao socialismo, atacando o “velho ambientalismo”, com coloração ideológica de ultradireita e claramente anti-indigenista. Ele ainda negou a crise ambiental na Amazônia, negando as queimadas, e criticou diretamente o presidente da França, Emmanuel Macron e o cacique Raoni Metuktire. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”, afirmou.
Ele disse que a Amazônia permanece “praticamente intocada”, negou que o bioma esteja sendo devastado e atacou nações estariam ameaçando a soberania brasileira. Lembrou ainda que o Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade e criticou aquilo que chamou de “ataques sensacionalistas” de parte da mídia no que diz respeito às queimadas na Amazônia.
Raoni virou um símbolo internacional. Sua luta pela Amazônia e em defesa dos povos originários se transformou em referência. Como pode o presidente do Brasil, diante de líderes mundiais, atacá-lo? @jairbolsonaro é um covarde. #BolsonaroEnvergonhaOBrasil #bolsonarovergonhamundial pic.twitter.com/TGov7zPFFQ
— Humberto Costa (@senadorhumberto) September 24, 2019
“Meu governo tem compromisso solene com a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada”, discursou. “É uma falácia dizer que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e pulmão do mundo”.
Foi o discurso mais agressivo pronunciado por um chefe de Estado brasileiro desde a criação da Organização das Nações Unidas, em 1945. A imprensa internacional destacou os ataques à própria mídia estrangeira, chamada pelo presidente de “sensacionalista”.
O presidente elencou seus adversários: a imprensa, a cultura e a esquerda. “A ideologia se instalou na cultura, na educação e na mídia”, discursou. Ele ainda lembrou o atentado sofrido na campanha eleitoral de 2018, atribuindo a facada desferida a um “militante de esquerda” e que só sobreviveu por um “milagre”.
Bolsonaro diz que houve “espírito colonialista de quem nos atacou”, se referindo às autoridades mundiais que criticaram o descompromisso dele com a Amazônia. E o que os EUA fazem conosco? #BolsonaronaOnu
— Rogério Carvalho (@SenadorRogerio) September 24, 2019
Ele declarou que o Brasil esteve próximo de se tornar uma ditadura comunista, mas não se conteve e defendeu a ditadura militar nos anos 70. “Meu país esteve muito próximo do socialismo”, afirmou. “O Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana”.
Bolsonaro acusou o líder indígena Kayapó de se deixar usar por outras nações para aumentar as terras indígenas na Amazônia. Raoni é indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2020. Ainda cita o ouro, o nióbio e as terras raras nas reservas ianomâmis para dizer que os índios não querem viver como pobres. “Reserva equivale a Portugal mas vivem somente 15.000 índios”, destacou.
Negacionista, disse que o país é vitima da cobiça internacional. “A Amazônia não está sendo devastada e nem sendo consumida pelo fogo, como diz a mídia”, discursou. Em seguida, declarou que o país está aberto aos turistas estrangeiros. “Não deixem de conhecer o Brasil. Ele é muito diferente do que é estampado pelos jornais”. Não fez qualquer comentário sobre a morte da menina Ághata, de 8 anos, vítima de uma bala perdida da polícia carioca, na última sexta-feira.
Bolsonaro fez menção a uma passagem da Bíblia, ao lembrar da máxima “a verdade vos libertará”, atacou o “politicamente correto” e o que chamou de “ideologia” que tenta “corromper a família”. Falou ainda em perversão de “nossas crianças” para bater na ideologia de gênero.
O discurso de Bolsonaro na ONU agora não deixa dúvidas de quem está na presidência da República: um inimigo da democracia. Ele conseguiu atacar a imprensa, os povos indígenas, a preservação da Amazônia e vomitar toda sorte de discurso ideológico do seu imenso repertório vazio. pic.twitter.com/S1akfRxUBt
— Paulo Rocha (@senadorpaulor) September 24, 2019