Estudo aponta relação entre volume de chuva e mortalidade infantil

Pesquisa de sanitarista da Universidade de São Paulo relaciona enchentes com agravamento das condições de higiene e saneamento das cidades atingidas.

Além dos efeitos desastrosos sobre as famílias, os efeitos desastrosos de eventos climáticos extremos influenciam nas taxas de mortalidade infantil. Esta é a conclusão central do estudo da médica sanitarista Aparecida Guilherme da Rocha, da Universidade de São Paulo, após a investigação que relacionou o volume das chuvas com a mortalidade infantil em Pernambuco, entre os anos de 2001 a 2003. Tanto o excesso quanto o déficit de chuva, conclui o estudo, contribuem para o aumento da mortalidade infantil. “A chuva é mais um elemento de reforço para as mortes”, afirma a pesquisadora.

Embora já existam trabalhos que relacionem o aumento do número de mortes de crianças ao saneamento básico precário, a associação da mortalidade infantil com os estragos provocados pelas enchentes ainda não estava comprovada. O saneamento precário, independente da oscilação das chuvas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é responsável por 88% dos casos de diarreia em todo o mundo, na maioria dos casos por ingestão de água contaminada ou pela falta d’água para higiene

Políticas públicas amenizam efeitos
Após observar os três anos mais chuvosos e os três mais secos de regiões semiáridas e não semiáridas de 184 municípios pernambucanos, Aparecida observou que a contaminação cresce nas situações extremas. Por isso, ela adverte sobre a eficácia das políticas públicas de saneamento, saúde e desenvolvimento social para minimizar os efeitos da ausência e do excesso das chuvas. Tese que pôde ser comprovada neste ano nos municípios da Região Nordeste, que passa pela pior seca dos últimos 30 anos.

Apesar da severidade do clima, não se tem assistido imagens comuns no passado, como saques a armazéns e êxodo em massa das situações afligidas – mudança que foi constatada até mesmo pela imprensa internacional, como mostrou recentemente a britânica BBC, em reportagem que mostrou como as políticas sociais implementadas nos governos do PT amenizaram os efeitos da seca na região.

Outra entidade que reconhece o avanço alcançado vem de documento assinado pela coordenação executiva da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), responsável pela construção de cisternas comunitárias no Nordeste. Segundo a entidade, os programas do governo federal estão garantindo mais dignidade ao sertanista. “O Bolsa Família, acrescido do Bolsa Estiagem, enquanto ações emergenciais, tem desempenhado papel chave na alimentação das pessoas”, diz o manifesto.

Em seu estudo, Aparecida Guilherme da Rocha informa ainda que regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevado e, portanto, com melhores condições de saneamento, são menos afetadas pelo efeito da chuva. “Na região metropolitana do Recife, por exemplo, não percebemos a associação dos casos de mortalidade com o aumento da chuva ou com a escassez. É uma região com condições socioeconômicas melhores”, diz ela.

Parâmetros da pesquisa
Apenas as ilhas de Fernando de Noronha não foram analisadas na pesquisa, que dividiu o Pernambuco em 122 cidades semiáridas e 62 municípios não semiáridos. Pelos dados colhidos no Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe), as cidades mais secas têm média pluviométrica abaixo de 800 milímetros por ano. Ao relacionar os indicadores, observou-se mortalidade maior que a média estadual, no período analisado, de 2001 a 2003. A taxa era 40 mortes para cada mil nascidos vivos.

Divulgado pela Faculdade de Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), o estudo destaca que as cidades do semiárido mais impactadas pela chuva foram: Camocim de São Félix, Carnaubeira da Penha, Ibirajuba, Lagoa Grande, Ouricuri, Salgueiro, Santa Cruz, São Bento do Una e Tacaratu. Na região da Mata (não semiárido), as cidades de Água Preta, Amaraji, Barreiros, Gameleira, Joaquim Nabuco, Maraial, Palmares, Paudalho, Ribeirão, Rio Formoso, São José da Coroa Grande, Tamandaré e Xexéu tiveram mais mortes relacionadas ao volume de chuva.

Integra do estudo “Associação espacial entre mortalidade infantil e precipitação pluviométrica no Estado de Pernambuco”.

Com informações da Agência Brasil

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