Fernando Eichenberg*, no O Globo
O receio de que o chamado Supercomitê, grupo bipartidário formado por 12 senadores e deputados do Congresso americano, fosse incapaz de chegar a um consenso sobre a redução de US$1,2 trilhão no déficit dos EUA no prazo de dez anos se confirmou. Os parlamentares deveriam ter alcançado um acordo até ontem à noite, em tempo hábil para que pudesse ser aprovado pelo Escritório de Orçamento do Congresso até amanhã, prazo final.
“Após meses de duro trabalho e intensas deliberações, chegamos à conclusão hoje (ontem) de que não será possível fazer um acordo bipartidário disponível ao público antes do deadline do Supercomitê”, anunciaram, por meio de um comunicado, a senadora democrata Patty Murray e o deputado democrata Jeb Hensraling.
Com o fracasso, cortes no mesmo valor serão automaticamente aplicados a partir de 2013, atingindo o orçamento da Defesa e programas domésticos do governo. O impasse gera incertezas políticas às vésperas da eleição presidencial no ano que vem, com impacto no mercado financeiro, já abalado pelo fraco crescimento econômico e o elevado índice de desemprego nos EUA.
O fracasso nas negociações deflagrou acusações entre democratas e republicanos.
– Ainda há muitos republicanos no Congresso que se recusam a ouvir a voz da razão e do compromisso – queixou-se o presidente Barack Obama em pronunciamento na Casa Branca, ao acrescentar que vetará qualquer tentativa de impedir os cortes automáticos previstos.
O presidente americano buscou acalmar os mercados financeiros, assegurando que os Estados Unidos não estão correndo o risco de uma moratória de sua dívida, como ocorreu em agosto, quando o impasse entre republicanos e democratas quase levou o país ao calote e provocou o rebaixamento de sua nota soberana pela agência de classificação de riscos Standard & Poor”s (S&P). Obama acrescentou que, de um modo ou de outro, haverá uma redução de gastos de pelo menos US$2,2 trilhões nos próximos dez anos. Ontem, a S&P informou que o fracasso do Supercomitê não ameaça a redução do déficit e, por isso, manterá o rating de crédito do país em “AA+”.
O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, também não poupou a oposição:
– Estou desapontado pelos republicanos nunca terem tido a coragem de ignorar os radicais do Tea Party (movimento conservador) e lobistas milionários, em vez de escutar a esmagadora maioria dos americanos, que deseja uma abordagem equilibrada para a redução do déficit – disparou.
Republicanos: corte de impostos cria empregos
O líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner, culpou o governo pelo fracasso do Supercomitê, ao dizer em um comunicado que a falta de um acordo ocorreu “porque o presidente Barack Obama e os democratas de Washington insistiram em dramática alta de impostos sobre os geradores de empregos americanos, o que tornará a economia pior”. Desde o início, os republicanos enfatizaram que não aceitariam aumentos de impostos.
O discurso acusatório foi endossado por pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA. O ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, hoje o principal favorito na corrida presidencial, apontou a falta de envolvimento de Obama no processo.
– É extraordinário que tenha sido formada um supercomitê com a importante missão de encontrar uma forma de prover saúde fiscal aos EUA, e com a multa de, se falhar, um corte de US$600 bilhões para os nossos militares – disse Romney em campanha em New Hampshire.
Já o secretário de Defesa, Leon Panetta, disse que o corte de US$600 bilhões na segurança nacional será “devastador” para o setor.
Numa pesquisa de opinião Washington Post-ABC, em outubro, três quartos dos entrevistados se manifestaram a favor de mais impostos para os ricos.
(*) Com agências internacionais
O Globo