Ataque à vida

EUA são recordistas em mortes de menores por armas de fogo

Todos os anos, mais de 2,7 mil crianças e adolescentes no país são vítimas desse tipo de armamento
EUA são recordistas em mortes de menores por armas de fogo

Foto: El Tiempo

Nos Estados Unidos, país-modelo de Bolsonaro e seus seguidores, a facilidade de para comprar e portar armas de fogo é responsável por uma média anual de 2.700 mortes de crianças e adolescentes — 60% dos casos são homicídios, a maioria praticada no ambiente doméstico.

Meio milhão de pessoas morrem todos os anos no mundo vítimas de disparos de armas de fogo. Entre os países desenvolvidos, o recordista desse tipo de ocorrência são os Estados Unidos.

Com uma população de 325 milhões de pessoas, calcula-se que haja até 350 milhões de armas de fogo em mãos de cidadãos nos EUA —descontados os arsenais das Forças Armadas e das polícias—ou seja, 1,07 arma por habitante, aponta a rede de TV britânica BBC.

Mais armas, mais homicídios
O resultado é que a taxa de homicídios com armas de fogo nos EUA é 25 vezes maior que a dos demais países desenvolvidos. São 100 mortes por dia apenas nessa modalidade — ou 36.500 mortes por ano.

Um dado divulgado pela BB revela a estreita relação entre liberalidade com armas de fogo e as mortes: os Estados Unidos tem uma taxa de homicídios quatro vezes superior à dos países da Europa Ocidental, mas nos outros tipos de crimes os registros de ocorrências se equivalem.

[blockquote align=”none” author=””]Os Estados Unidos são os recordistas mundiais em mortes de crianças e adolescentes provocadas por armas de fogo, com uma taxa 36.5 vezes mais alta do que a registrada nos demais países desenvolvidos, aponta reportagem da cadeia de notícias CNN[/blockquote]

As vítimas: crianças e adolescentes
Um estudo do New England Journal of Medicine, os tiros foram a segunda causa de mortes de crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos nos Estados Unidos em 2016 (a estatística mais recente), números que cresceram 28% desde 2013.

Os Estados Unidos são os recordistas mundiais em mortes de crianças e adolescentes provocadas por armas de fogo, com uma taxa 36.5 vezes mais alta do que a registrada nos demais países desenvolvidos, aponta reportagem da cadeia de notícias CNN.

Mesmo na comparação com os países em desenvolvimento — faixa onde se encontra o Brasil — o número de crianças e adolescentes mortos por arma de fogo é cinco vezes maior.

Segundo levantamento realizado pela Universidade de Michigan e citado pela CNN, 20.360 crianças morreram nos Estados Unidos em 2016. Mais de 12 mil dessas ocorrências — 60% do total—foram mortes violentas.

Segunda causa de morte
Os acidentes de trânsito fizeram 4.074 vítimas, seguidos de perto pelas armas de fogo, responsáveis por 3.143 crianças mortas nos EUA em 2016. Desses casos, 1.865 foram homicídios, 1.102 foram suicídios e 126 foram mortes causadas por disparos não intencionais ou em situações indeterminadas.

Para ilustrar o risco de se ter uma arma em casa, ao alcance dos filhos. Em 2016, apenas 2% das mortes de adultos foram resultado de disparos acidentais de armas de fogo. Já entre crianças e adolescentes, essa ocorrência respondeu por 26% das mortes naquele ano.

As estatísticas comprovam que todos os dias 47 crianças e adolescentes são atingidos por tiros nos Estados Unidos. A média de mortes anuais—superada largamente em 2016 e em crescimento constante — é de 2.700, além de 14.500 feridos.

“Quando uma criança ou adolescente norte-americano é morto com uma arma de fogo, 60% dos casos são homicídios—cerca de 1.600 por ano. Entre as crianças com menos de 13 anos de idade, esses homicídios ocorrem mais frequentemente em casa e estão geralmente ligados à violência doméstica e familiar”, relata a CNN.

Mais armas, mais suicídios
Outros 35% das mortes de crianças e adolescentes por armas de fogo são suicídios. “Abaixo dos 18 anos de idade, geralmente a arma usada para atentar contra a própria vida é encontrada no ambiente doméstico e pertence aos pais ou a um parente”, aponta a reportagem.

“Sem as armas, muitas dessas vidas seriam salvas”, afirmou à BBC  Jeffrey Swanson, professor de Psiquiatria e de Ciência Comportamental da Faculdade de Medicina da Duke University.

Entre 2012 e 2016, cerca de 60% das 175,7 mil mortes por arma de fogo registradas no Estados Unidos foram suicídios.

Segundo os pesquisadores, a larga maioria dos sobreviventes de tentativas de suicídio jamais volta a atentar contra a própria vida — o ato seria, muitas vezes, resultado de um impulso momentâneo em meio a uma crise, não uma cristalizada vontade de morrer.

Entre crianças que sobrevivem a uma tentativa de suicídio, é especialmente raro que voltem a repetir o ato, principalmente, tentativas de suicídio que não resultam em

O acesso a revólveres, pistolas e congêneres, porém, reduz drasticamente a possibilidade de uma pessoa superar esse gesto impulsivo: mais de 80% das tentativas de suicídio com arma de fogo resultam em morte.

[blockquote align=”none” author=””]Segundo pesquisa publicada pelo American Journal of Public Health, uma mulher envolvida em uma relação abusiva tem entre cinco e oito vezes mais chances de ser assassinada se seu marido ou companheiro tiver acesso a uma arma de fogo[/blockquote]

Menos armas, mais sossego
Há pouco mais de duas décadas, a Austrália era muito mais complacente com a disseminação das armas entre a população. Uma tragédia fez o país repensar essa política.

Em abril de 1996, um homem matou 35 pessoas e feriu outras 23 em um ataque aleatório, no museu a céu aberto de Port Arthur, na Ilha da Tasmânia.

A comoção nacional com o massacre levou a uma grande mobilização popular pelo endurecimento das leis sobre armas de fogo — mudança que foi votada e aprovada pelo Parlamento em questão de dias: foram banidos os rifles e armas automáticas para uso dos cidadãos.

O governo australiano comprou essas armas de seus proprietários e as destruiu, reduzindo em 30% o arsenal em poder de civis no País e reduzindo em mais de 50% o risco de alguém morrer na Austrália em consequência de um disparo de arma de fogo.

Também a partir da mudança na lei, a taxa de suicídios na Austrália foi reduzida em 80%.

Um detalhe importante para quem afirma que “na ausência de uma arma de fogo o criminoso usará outro jeito de matar”: a taxa de homicídios cometidos por outros métodos que não os tiros, na Austrália, permaneceu similar à registrada antes da restrição à posse e porte de armas de fogo.

Violência doméstica
Especialmente em casos de violência doméstica, a presença de armas de fogo multiplica os riscos de morte e ferimentos graves.

Segundo pesquisa publicada pelo American Journal of Public Health, uma mulher envolvida em uma relação abusiva tem entre cinco e oito vezes mais chances de ser assassinada se seu marido ou companheiro tiver acesso a uma arma de fogo. Os dados se referem aos Estados Unidos, onde todos os meses 50 mulheres são assassinadas a tiros por seus parceiros.

No Brasil, 12 mulheres são vítimas de feminicídio todos os dias.

Com informações da CNN e da BBC.

Veja as reportagens orginais (em inglês):
CNN – Estados Unidos lideram em número de crianças mortas por arma de fogo no mundo
BBC- E se todas as armas desaparecessem?

 

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