O fechamento da unidade da Ford em São Bernardo (SP) ameaça desempregar diretamente 3 mil metalúrgicos e metalúrgicas e outros 24 mil trabalhadores da cadeia produtiva. A estimativa é do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), de acordo com o jornal Folha de S. Paulo.
Segundo os analistas, a saída da Ford do mercado de caminhões vai gerar um efeito em cascata ainda difícil de mensurar. Além do desemprego imediato dos trabalhadores, a perspectiva é de falência de distribuidores e fornecedores nos próximos meses. As empresas do setor não terão alternativa para absorver seus serviços e produtos.
Diante do anúncio surpresa, os trabalhadores da Ford decidiram entrar em greve contra fechamento da fábrica. “Nós lutamos, fizemos de tudo para que isso não ocorresse. E não dá para ter uma notícia dessa e achar que dá para continuar trabalhando”, disse José Quixabeira de Anchieta, coordenador-geral do Comitê Sindical na Ford.
A saída da Ford é detona um novo patamar da crise antevista pelos números negativos da economia nacional produzidos no governo Temer e agravados por Bolsonaro e seu projeto ultraliberal. As dezenas de desempregados do ABC paulista vão se somar aos mais de 12 milhões de pessoas atualmente sem trabalho, além de outros 4,7 milhões de desalentados. É o efeito cruel da aplicação da Emenda Constitucional 95, do Teto de Gastos, que congelou investimentos.
Por outro lado, a capacidade ociosa da economia impede qualquer perspectiva de expansão de investimentos, tanto internos quanto externos. Some-se a isso, ainda, os efeitos nefastos da reforma trabalhista que reduz salários e renda para amplos segmentos de trabalhadores. A reforma da Previdência e o corte de direitos sociais completam o quadro desolador.
Além disso, as estimativas do mercado também não prometem um cenário positivo para a economia nacional. A expectativa de crescimento do PIB para 2019 tende a ser menor do que 2,0%, o que se traduzirá em mais recessão, falência de empresas e desemprego. Para completar o quadro, economistas apontam para a proximidade de uma crise econômica mundial nas dimensões, ou até mesmo superior, da ocorrida em 2008.
“Faremos o que sabemos fazer de melhor: a luta. Lutaremos até o final pelos nossos empregos e direitos. E assim como fizemos em 1998, quando a Ford teve uma atitude irresponsável semelhante, lutaremos para reverter esse quadro e garantir os empregos dos metalúrgicos e metalúrgicas”, afirma Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM).