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Fim da recessão econômica é ilusão estatística

Esther Dweck aponta que Índice de Atividade Econômica só apresentou alta em fevereiro – mesmo assim, após mudança metodológica
Fim da recessão econômica é ilusão estatística

Charge: Laerte

Os jornais desta terça-feira (16) afirmam que a prévia do Produto Interno Bruto (PIB) cresce no primeiro trimestre, a partir de dados do Banco Central. Mas o que explica esse aumento, quando todos os demais indicadores – inclusive o de emprego, apontam um movimento contrário? É o que analisa a economista Esther Dweck no artigo “Fim da recessão ou ilusão estatística?”, onde destrincha o Índice de Atividade Econômica do Banco Central e o seu suposto crescimento.

Confira o artigo na íntegra:

Fim da recessão ou ilusão estatística? – por Esther Dweck

O governo comemorou hoje o que seria o primeiro sinal de recuperação da atividade econômica após oito trimestres de quedas sucessivas do indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Mas o que explica o aumento em tal índice, quando todos os demais indicadores, especialmente o emprego, apontam para um movimento contrário?

Indicador de Atividade do Banco Cental (IBC-Br) Trimestral – série com ajuste sazonal

Fonte: BCB, elaboração própria

Esse resultado foi muito influenciado por uma mudança importante em duas das séries que compõe esse indicador e que têm um peso muito elevado.

Quando olhamos a série mensal do IBC-Br, observa-se que o aumento no último trimestre foi decorrente de um aumento apenas no mês de fevereiro, sendo que já em março é possível verificar uma queda no mesmo indicador.

Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br)

Fonte: BCB, elaboração própria

 

A principal explicação para essa resultado do mês de fevereiro foi a mudança metodológica nas Pesquisas Mensais de Comércio e Serviços do IBGE, cuja alteração afetou o nível dessas séries de forma significativa, conforme pode ser visto no gráfico abaixo.

Índice base fixa com ajuste sazonal (2014=100) (Número-índice)

Fonte: IBGE, elaboração própria

A série antiga, que foi divulgada até jan/2017, apresentava uma clara trajetória de queda. Em abril de 2017, a série foi revisada e um novo valor para janeiro foi divulgado, em um nível consideravelmente acima do que havia sido divulgado anteriormente. Como pode ser visto no gráfico, houve um deslocamento para cima da série, que nos meses seguintes voltou a apresentar sucessivas quedas, tanto em fevereiro quanto em março em relação ao mês imediatamente anterior.

Por parte do IBGE, não houve qualquer mudança nos dados da dez/2016 para e, dessa forma, o crescimento do mês de janeiro, em relação a dezembro, foi consideravelmente elevado e acima de qualquer outro crescimento apresentado ao longo de toda a série histórica.

Taxa de Crescimento em relação ao mês anterior – Índices de volume de vendas no comércio varejista

Fonte: IBGE, elaboração própria

O grande problema é que, em fevereiro, o IBC-Br foi calculado já utilizando a nova série, o que claramente deslocou o nível da série do IBC-Br sem que efetivamente se verificasse uma mudança na sua trajetória. Com isso, o resultado do índice de fevereiro foi muito alto e a soma dos três primeiros meses mostrou-se acima do trimestre anterior.

Portanto, esse aumento do índice em fevereiro não decorre de qualquer mudança efetiva da economia, mas de um deslocamento das séries que compõe o IBC-Br, sem representar qualquer alteração na trajetória das séries. Como nos meses seguintes essas mesmas séries voltaram a cair, o indicador de março já refletiu tal movimento.

Em relação ao PIB, que será divulgado em 1/6/2017, o efeito dessa mudança das séries da PMC e PMS deve ser menor, pois há no cálculo do PIB mais controles, o que evita que tais variáveis determinem sozinhas a trajetória do mesmo. Ainda assim, haverá algum efeito que não deve ser visto como uma efetiva saída da recessão, sob o risco de ficarmos iludidos com um resultado que é meramente um efeito estatístico.

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