Força da defesa de Dilma está nos fatos: não há crime de responsabilidade

Força da defesa de Dilma está nos fatos: não há crime de responsabilidade

Gleisi: espero, sinceramente, que a prisão não tenha tido motivação política, mas essa situação muito me leva pensar que teveAssim que discursou na tribuna do Senado, na tarde desta segunda-feira (27), a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) concedeu entrevista coletiva que teve a presença de praticamente todas as redes de tevê e os principais jornais e blogs que acompanham o Congresso Nacional. Gleisi disse o que parte da mídia não queria ouvir: sim, ela continuará firme, forte e combativa na Comissão Especial do Impeachment. 

Para Gleisi, a cada dia que passa fica mais evidente que não houve crime de responsabilidade que pretendem imputar à presidenta Dilma, como forma ou atalho para apeá-la da presidência. 

A senadora ainda considerou como algo estranho e inexplicável a prisão do seu marido, Paulo Bernardo. Isto porque o processo está sendo investigado há um ano, e nunca, jamais, Paulo Bernardo se omitiu em dar explicações ou depor. Estranho também foi o aparato policial e a operação midiática de sua prisão. 

Confira, abaixo, a coletiva da senadora Gleisi Hoffmann: 

Repórter – A senhora vai continuar na comissão do impeachment? 

Gleisi Hoffmann (PT-PR) – Vou continuar na comissão do impeachment, vou continuar defendendo a presidenta Dilma, vou continuar defendendo tudo o que acredito, a democracia, porque minha luta política, minha militância, sempre foi para isso. 

Repórter – A senhora disse que volta com a cabeça erguida. A senhora vai continuar com essa posição aguerrida que tinha na comissão do impeachment? É assim que a senhora vai continuar? 

Gleisi Hoffmann – Da mesma forma. Eu não devo nada. O que aconteceu com o meu marido, com o Paulo Bernardo, é algo inexplicável. Se há algum inquérito, e que está andando, por que não o chamaram para depor? Por que não o convidaram? Ele nunca se negou a fazer isso. Sempre esteve aqui, morando comigo em Brasília; tem endereço certo. Não precisava ter gasto de helicóptero, de carro, de aparato policial para buscá-lo. Era simplesmente intimá-lo e ele iria depor ou se ele tivesse que depor ali, naquele momento, ele iria da mesma forma. 

Não entendo porque fizeram isso, de um processo que iniciou há um ano. Se fosse algo, agora, que pudesse a liberdade colocar em risco o processo, mas não tinha nada que desse a base a uma prisão preventiva. Eu, realmente, fiquei sem entender isso. Nós nunca nos recusamos a fazer qualquer ação, prestar qualquer depoimento. 

De fato, foi algo muito forte para nossa família, para mim, para ele. Eu fico pensando qual foi o objeto disso nesse momento em que a gente está discutindo algo tão importante que é a presidência da República, um processo de impeachment, enfim, a condução política e econômica do País. 

Repórter – A senhora vê motivação política? 

Gleisi Hoffmann – Eu não posso dizer que teve motivação política, mas quando não tem Justiça, a gente sempre se pergunta qual é a motivação que teve. Eu não consigo entender o porquê desta ação. Por que se chamasse ele [Paulo Bernardo] para depor, se levassem ele para depor, ou mesmo se fossem à minha casa sem esse aparato todo, tudo bem. Faz parte do processo. 

Acho que todo mundo tem que responder à Justiça. Eu tenho dito isso em todos os momentos que me perguntam. Não tenho problema algum com isso. Eu sou uma pessoa pública. Se tem algo contra mim eu tenho que responder, até provar que não é verdade, mas tenho que responder e sempre fiz isso e o Paulo sempre fez isso. Fico me perguntando porque fazer essa ação midiática. É isso que eu me pergunto. Não tinha justificativa, principalmente de um processo que começou há um ano. Então, eu fico pensando, quando não há justiça ou justificativa, há de ter outra motivação. Eu espero, sinceramente, que não tenha sido, mas essa situação muito me leva pensar que foi. 

Repórter – Como vai ser a defesa dele [Paulo Bernardo] para essa acusação? 

Gleisi Hoffmann – Hoje vai depor o advogado, que é a pessoa que está envolvida. Ele já fez um depoimento de custódia e vai se defender. Não tem absolutamente nada com isso. Disse, inclusive, no meu depoimento, que conheço o Paulo, uma pessoa de militância de muitos anos, bancário, nós temos uma vida simples, jamais faria algo nesse sentido. Podem até acusar a gente de ter pedido dinheiro de campanha para empreiteira, como dizem, campanha todo mundo fez, mas disso tenho certeza absoluta que não. É um mal explicado muito grande. É lamentável que isso tenha acontecido e tenho certeza que ele vai explicar e que vai provar inocência. 

A senhora falou que agradeceu o presidente do Senado, Renan Calheiros? 

Gleisi Hoffmann – Ele me ligou junto com o Jorge Viana [senador pelo PT do Acre e primeiro vice-presidente do Senado] e disse que tinha tomado aquelas medidas, as iniciativas [instar o Supremo Tribunal Federal sobre o descumprimento da prerrogativa e inviolabilidade de residência oficial do Senado, sem autorização da Suprema Corte]. Não foi um pedido meu, ele que tomou as iniciativas em nome da Casa [Senado], eu acho até em relação à autonomia dos poderes. 

Eu agradeci porque eu acho que é importante. Disse na tribuna que eu não estava lá falando como senadora, como parlamentar indignada, até porque eu já assinei proposta de emenda constitucional para terminar com o foro privilegiado. Eu acho que todo mundo tem que responder de forma igual. Isso tramita aqui. Mas como mulher, como cidadã, eu fiquei pensando que milhares de pessoas podem ter essa ação ou têm essa ação muitas vezes policial, do Estado, em sua casa, sem poder se defender, sem poder dizer que estão sendo afetadas desse modo. Então, eu acho importante marcar essa posição. 

Ninguém está livre da Justiça, ninguém. Todo mundo tem que responder. Agora, tem que ser dentro dos parâmetros legais, porque é isso que dá a base do estado democrático de direito pelo qual a gente tanto lutou. 

Repórter – Alguns aliados da senhora disseram que essa prisão poderia enfraquecer a defesa da presidenta na comissão do impeachment. A senhora acha que isso interfere? 

Gleisi Hoffmann – De jeito nenhum. Eu ouvi isso até de comentaristas na imprensa, de que isso tiraria a força. A força da defesa da presidenta Dilma está nos fatos, que mostram que não teve crime de responsabilidade. É o que nós vamos ver com a perícia agora. Nós dizemos desde o início: não tem crime de responsabilidade em relação ao Plano Safra porque não há ato da presidenta. E pedimos à perícia para isso e ela afirma que não teve. Então, uma das questões que estava alegando já não pode ser alegada. Os decretos parecem-me que se reduziram a três – começaram em seis – e uma declaração da Secretaria de Orçamento Federal diz que a presidenta não foi informada sobre a situação do resultado primário, do superávit ou do déficit que tinha. Volto a dizer, em sistemas complexos de decisão, a responsabilidade objetiva não poder ser cobrada só do chefe do executivo. Ela é uma responsabilidade difusa e tem que se analisar todo o processo. Para mim a defesa da presidenta em relação a esse processo de impeachment está nos fatos. A outra questão é política. E aí é claro que na disputa política, nas discussões políticas, se usa todos os argumentos e todos os fatos. 

 

Marcello Antunes

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