A última assembleia dos funcionários da Ford de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, durou 78 minutos. No ano em que completa seu centenário no Brasil, a multinacional norte-americana encerrará amanhã (30) as atividades na fábrica de São Bernardo, que adquiriu em 1967 e por onde passaram pelo menos 100 mil trabalhadores, segundo Rafael Marques, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Os últimos caminhões sairão da linha de montagem. A produção de carros terminou em junho. Os aproximadamente 650 funcionários que ainda permanecem serão dispensados a partir de quinta-feira, na base de 100 por dia. Parte do pessoal administrativo continuará trabalhando no local, até março, quando haverá transferência para o bairro paulistano da Vila Olímpia.
Na despedida, que reuniu trabalhadores na ativa, aposentados e outros que deixaram a empresa nos últimos meses, muito choro, abraços e uma dose de incerteza. Existe a expectativa de que a Caoa compre a área e mantenha a fábrica funcionando. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, as bases do acordo estão traçadas, inclusive do ponto de vista salarial. Estaria faltando apenas a aprovação de uma linha de financiamento por parte do BNDES. “Não há outra explicação a não ser a falta de decisão política de quem manda no BNDES”, afirmou, logo depois da assembleia. “Não duvido que haja pressões do governo federal para não liberar o financiamento”, disse ainda no carro de som, para aproximadamente mil trabalhadores. Para ele, pode haver, inclusive, resistência das próprias montadoras multinacionais contra uma empresa de veículos nacional.
A Ford anunciou o fechamento da fábrica em fevereiro. Representantes dos trabalhadores foram aos Estados Unidos conversar com a direção mundial da empresa, sem sucesso. Em setembro, em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, a Caoa oficializou sua intenção de comprar a fábrica instalada no bairro do Taboão. Desde então, as negociações avançaram, mas esbarraram no “1%”, como diz Wagnão. A assessoria da Caoa diz que não há novidades por enquanto. Procurado por meio da assessoria, o BNDES não se manifestou até a conclusão deste texto.
O líder metalúrgico informou que há um acordo coletivo praticamente pronto. “As bases salariais estão estabelecidas”, adiantou. Os possíveis futuros contratados receberiam o equivalente a 70% dos atuais. Inicialmente, a produção seria apenas de caminhões – o que exigiria, no primeiro momento, de 800 a 850 trabalhadores, mas segundo Wagnão a Caoa manifestou a intenção de fabricar automóveis também.