A explosão social em vários países da América Latina acendeu a luz amarela do neoliberalismo mundial. No Equador, Chile e Colômbia, por último, a população foi às ruas por seus direitos. Nesse meio tempo, o ultraliberal Maurício Macri foi derrotado na Argentina e um golpe de Estado afastou Evo Morales do governo, na Bolívia. Ao mesmo tempo, os povos dos países centrais, em especial a França, também reagem à super-exploração.
Antecipando-se a esse quadro, em agosto a Business Roundtable, que reúne 181 CEOs das maiores empresas do mundo, revisou sua histórica posição sobre as taxas de lucro dos acionistas. Antes voltada para a maximização a qualquer custo dos lucros, a associação passou a defender que as empresas devem beneficiar não apenas aos acionistas, mas a todos, ou seja, “clientes, funcionários, fornecedores e comunidades”. A nova postura sugere preocupação com os limites da exploração selvagem dos trabalhadores.
O anúncio da Business Roundtable ganhou imediata adesão dos setores neoliberais brasileiros. Com Armínio Fraga à frente, setores econômicos, políticos e da mídia passaram a bater na tecla do “combate à desigualdade”. “Mesmo economistas mais liberais já admitem incorporar a política social na formulação de políticas econômicas”, disse Fraga, em entrevista. As belas palavras, no entanto, não vieram acompanhadas de medidas concretas de geração de emprego e distribuição de renda.
Ao contrário, a defesa do combate à desigualdade reflete apenas a tentativa de colocar água fria na fervura da indignação popular. Assim como no fracassado neoliberalismo aplicado no Chile, os neoliberais nacionais aplaudem a privatização da previdência social, saúde, educação e serviços básicos como água e luz. Além disso, os “preocupados” neoliberais não expressam qualquer contrariedade com a submissão da economia nacional ao “American First” de Trump.
“É um erro muito grande tratar os trabalhadores como problema, espoliá-los pelo enriquecimento do empresariado”, denuncia o líder da bancada do PT, senador Humberto Costa (PE). “Essa fórmula se mostrou falida agora no Chile. E este governo [Bolsonaro] está armando uma bomba-relógio, que poderá explodir a qualquer momento”, alerta. “E é melhor que essa bomba seja desarmada antes”, advertiu o senador em pronunciamento no plenário do Senado Federal.
Assustado com as manifestações na América Latina, o neoliberalismo mundial e nativo quer apenas dourar os anéis para não entregar os dedos. Desde a “nova ordem” expressa pelos CEOs, a disputa pela bandeira do combate à desigualdade passou a ocupar a pauta neoliberal. Em torno disso, tentam construir um “centro” político, como se defender os pobres fosse um velho compromisso dos neoliberais brasileiros. O que pretendem é bloquear a oposição e limitar a disputa política nacional “entre eles e eles mesmos”, disse Lula em manifestação no último dia 12 de dezembro.