Apesar das provocações e acusações, Gabrielli voltou a apresentar uma série de fatos importantes para a compreensão e desconstrução do que a oposição e setores da imprensa querem apresentar como “irregularidades” e “crise” da Petrobras. Por exemplo, a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), que, segundo essas versões, teria sido comprada pela Astra Oil por US$ 42 milhões e revendida à Petrobras por US$ 1,2 bilhão. Na realidade, a Astra Oil adquiriu Pasadena à empresa Crown por US$ 360 milhões, valor 8,5 vezes maior que o preço atribuído pela oposição à transação.
“Quero desconstruir a falsa informação, amplamente divulgada, de que essa refinaria custou à Astra US$42,5 milhões”, afirmou Gabrielli. “A Astra fez um contrato de Tolen [uma espécie de “aluguel”] com a Crown, ocupando a refinaria. Essa operação custou à Astra US$84 milhões. Além desse valor, ao fim da operação a Astra pagou à Crown mais US$42,5 milhões, além de US$104 milhões por estoques”, narrou o ex-presidente da Petrobras. Além disso, a empresa belga fez uma série de investimentos em Pasadena. “O custo inicial da aquisição da refinaria em 2005 para a Astra foi de US$360 milhões e não de US$42,5 milhões”, explicou Gabrielli.
Ele também reiterou que, no contexto da época, a compra de Pasadena pela Petrobras foi um acerto. “Foi uma refinaria barata, (US$5,5 mil dólares por capacidade de refino do barril, pouco menos da metade do preço médio de mercado da época), localizada num importante polo consumidor e de distribuição e que permitiria, de acordo com o projeto inicial, abrir mercado para o petróleo brasileiro, num momento em que o mercado americano de derivados estava aquecido e o consumo no Brasil estava estagnado.
“Hoje, nós teríamos outras opções. O mercado americano se retraiu com a crise de 2008, ao mesmo tempo em que a produção americana cresceu muito, com a exploração do gás de xisto. Mas, naquela época, foi um negócio acertado”, reiterou Gabrielli, destacando que a refinaria vem alcançando boas margens de lucro, como os US$ 62 milhões do último trimestre e há dois meses recebeu um prêmio pela excelência pela gestão ambiental e de segurança e saúde do trabalho.
“A refinaria de Pasadena produz 100 mil barris por dia. O preço médio dos derivados hoje, nos Estados Unidos, é em torno de US$138, US$140 o barril. Portanto, a refinaria fatura, em média, alguma coisa em torno de US$13,5 milhões a US$14 milhões por dia. Portanto, ela é uma refinaria que fatura US$5 bilhões por ano”.
Irritação
A tranquilidade de Gabrielli na exposição dos fatos irritou alguns parlamentares da oposição. O deputado Fernando Francischini (SD-PR), por exemplo, brandiu sua condição de delegado da Polícia Federal para afirmar que o suposto “desencontro de avaliações sobre a compra de Pasadena caracterizaria “improbidade administrativa”. O ex-presidente da Petrobras lembrou a Francischini que ele estava na CPI como deputado, e, portanto, não exigiria do parlamentar o mesmo rigor que ele estaria obrigado a observar no exercício do cargo de delegado da PF. “Ao senhor faltam informações básicas“, afirmou Gabrielli, repetindo mais uma vez a diferença entre o contexto de hoje e o de 2005, quando Pasadena foi adquirida pela Petrobras.
“A Presidente Graça disse o seguinte: “Foi um bom negócio naquele momento, e com a visão de hoje não é um bom negócio.” Eu também digo a mesma coisa. Eu digo que, com a visão de hoje, com o mercado brasileiro crescendo, com o pré-sal brasileiro, com as margens que há no mercado americano, não valeria a pena fazer esse investimento. Consequentemente, essa diferença pode ser uma boa retórica política, mas não é uma boa análise de um Delegado da Polícia Federal”, afirmou Gabrielli.
Já o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) foi mais longe e tentou atribuir ao ex-presidente Lula uma “interferência” para a compra de Pasadena. “Como deputado de oposição, o senhor tem o direito de fazer o espetáculo que quiser. Mas não é correto dizer que o Presidente Lula participou de qualquer reunião sobre Pasadena”, respondeu Gabrielli. Bueno já havia tentado distorcer as palavras da presidenta Dilma, que em nota afirmou que votou pela aquisição da refinaria com base em um parecer incompleto. “A presidenta da República emitiu uma nota dando essa nota [o parecer] como algo imoral”, afirmou o deputado do PPS. “Ela não disse que era uma nota imoral. Ela disse que era um parecer técnico juridicamente falho”, respondeu Gabrielli. “Ela quis dizer”, devolveu Bueno. “Bem, o senhor é muito próximo dela, pode interpretar”, ironizou o ex-presidente da Petrobras.
Cyntia Campos