Gleisi: “Os brasileiros não votaram em Temer. Votaram no Mais Médicos, no Minha Casa, Minha Vida e nas propostas de governo de Dilma”Lançado em 2013 e responsável por garantir assistência de saúde a mais de 63 milhões de brasileiros, o programa Mais Médicos está por um triz. O governo interino de Temer já deixou claro que não vai se esforçar pela preservação do programa, como demonstra o “corpo mole” da base golpista no Parlamento, que atrasa a votação de uma medida provisória editada por Dilma prorrogando por mais três anos os contratos de dois mil médicos estrangeiros.
“Os distritos indígenas têm os médicos que nunca tiveram. As comunidades mais pobres do interior, das periferias das grandes cidades também”, ressaltou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) em pronunciamento ao plenário nesta segunda-feira (22). “Esses médicos podem estar com os dias contados no Brasil”.
O Mais Médicos trouxe mais de 12 mil profissionais do exterior para atender a população das áreas que não conseguiam atrair profissionais brasileiros. Antes de ser afastada, Dilma editou uma medida provisória prorrogando por mais três anos os contratos de 2 mil desses médicos, mas a movimentação dos golpistas é para que a MP perca a eficácia sem ser votada. A MP caduca dia 29 de agosto, exatamente o dia em que Dilma estará falando ao Senado no processo de impeachment.
Para a senadora, isso é “corpo mole deste governo interino, deste ministro da Saúde, que não tem decência, que, aliás, fala muita besteira. O problema maior dele não é falar besteira, mas sua inação”. Gleisi lembra que, caso tivesse interesse na oferta de saúde pública aos brasileiros mais pobres, o ministro interino Ricardo Barros estaria no Congresso articular a aprovação da medida provisória.
Barros não veio — como sabemos pela imprensa, ele tem encontrado bastante tempo para dar entrevistas defendendo o “enxugamento” do Sistema Único de Saúde, reduzindo ainda mais a oferta de atendimento de saúde público e gratuito para os brasileiros mais pobres. Em contrapartida, seriam criados os “planos de saúde populares”, o que será ótimo para as operadoras dos planos de saúde, que, coincidentemente, são grandes contribuintes da campanha do atual ministro na sua candidatura a deputado.
O resultado prático do corpo mole é que daqui a 50 dias 2 mil médicos serão desligados do programa Mais Médicos e terão que deixar o Brasil. Outros 7 mil poderão ser desligados em janeiro, quando vencem seus contratos. “E assim por diante até chegarmos aos 12 mil médicos estrangeiros que estão à disposição do Brasil”, lamentou Gleisi.
A senadora lembrou a importância vital para a saúde dos brasileiros adquirida pelo Mais Médicos em seus três anos de funcionamento. Muito mais do que apenas trazer estrangeiros para atuar nas localidades mais carentes e mais distantes—e garantir que 63 milhões de pessoas passassem a contar com esse atendimento, o programa garantiu a abertura de cursos de Medicina em vários lugares, notadamente no interior do País.
“Isso tudo vai simplesmente deixado de lado, porque para refazer esse convênio não é de um dia para o outro”, alertou Gleisi. Além de negociar com os governos estrangeiros e com os médicos, é preciso que os profissionais façam uma iniciação na Língua Portuguesa e se preparem nas Unidades Básicas de Saúde. “O que vamos dizer para essas pessoas que estavam acostumadas a ter um médico do Mais Médicos, que moram, inclusive, no lugar onde trabalham, moram na vila onde tem o posto de saúde? Dizer que acabou porque este presidente golpista de quinta não se preocupa com os programas que atendem a população?”
A senadora destaca que não adianta dizer que Temer foi votado junto com Dilma, porque ele compôs a chapa como vice de Dilma. E não teve votos. Quem teve votos, ressaltou, foi o programa do governo ameaçado de deposição pelo golpe. “Este país votou no Mais Médicos, porque votou na continuidade da Presidente Dilma. Este país votou no Minha Casa Minha Vida, este país votou no Bolsa Atleta, este país votou em todos os programas que melhoraram a vida do povo brasileiro. Que legitimidade tem o vice interino conspirador para desmontar esses programas?”
Cyntia Campos