Gleisi Hoffmann: Enquanto o mundo comemora avanço, no Brasil, risco é atraso

Gleisi Hoffmann: Enquanto o mundo comemora avanço, no Brasil, risco é atraso

Gleisi: Enquanto Cuba e EUA viram uma página triste de suas histórias, no Brasil estamos prestes a lançar um livro em que registraremos um golpe frio sobre a democraciaEnquanto os Estados Unidos dão mostras de respeito ao conceito de democracia, por meio da reaproximação com Cuba, o Brasil corre o risco de atraso, com a ameaça de golpe institucional contra uma presidenta democraticamente eleita. Em sua coluna semanal, a senadora Gleisi Hoffmann (PT) traça um paralelo com o paradoxo. Para ela, os derrotados de 2014 querem tirar Dilma porque não aguentam mais esperar pela próxima eleição; e querem inviabilizar Lula porque temem que ele vá vencer novamente as eleições.

Leia a íntegra da coluna, originalmente publicada no Blog do Esmael

 

Obama foi pra Cuba; aqui o golpe

Fiquei emocionada ao ver a chegada do presidente Barack Obama a Cuba, uma visita histórica que sela a reaproximação dos EUA com a Ilha revolucionária de Fidel Castro. Poucos acreditavam que isso seria possível, mas a determinação de um presidente americano negro, de um papa progressista e das reformas econômicas em Cuba, estão possibilitando-nos vivenciar esse pedaço da história tão importante para a democracia, autodeterminação dos povos e respeito entre Nações.

É importante registrar que a última visita de um presidente norte americano a Cuba foi em 1928!

Ao mesmo tempo a emoção fica embaçada, ao assistir, no nosso país, o maior da América Latina e que na história recente saiu de uma ditadura militar, uma crise política destinada a justificar um duro golpe nas regras democráticas e na nossa Constituição, a Constituição Cidadã, de 1988. O que faz isso acontecer? O ódio proliferar? Junto com essa gana em tirar uma presidenta legitimamente eleita pelo voto popular?

Desconstruir a imagem do maior líder popular que o Brasil já teve?

Muitos correrão a dizer que é a corrupção, praticada sem precedentes nestes governos do PT e liderada pessoalmente por Lula (o líder operário, que venceu todas as barreiras, se tornou presidente do Brasil e proporcionou a maior revolução econômico-social de nossa história).

Já escrevi sobre isso neste espaço. A corrupção é um problema global que afeta todos os países do mundo. Isso não é justificativa, é constatação. Relatório divulgado pela Comissão Europeia, em fevereiro de 2014, conclui que a corrupção atinge todos os seus 28 países membros, custando cerca de 120 bilhões de euros por ano. Aqui, nossa história é permeada por atitudes corruptas, mas é em cima de Dilma, Lula e do PT que a sociedade brasileira quer fazer a catarse anticorrupção.

Há também o componente de hipocrisia, quando governantes que estão às voltas com pesadas denúncias, enfileiram-se para atacar o governo federal e defender o impeachment. Além disso, o comandante do processo na Câmara dos Deputados, o presidente daquela Casa, enfrenta processos por ter contas não declaradas no exterior.

E é sempre importante lembrar que Dilma enfrenta agora um processo de impeachment sem que se tenha contra ela qualquer acusação com o mínimo de sustentação. Pedem o impeachment da presidenta mesmo não tendo nenhum crime de responsabilidade contra ela. Querem a prisão do presidente Lula, sem que haja qualquer crime a ele atribuído. Nem inquérito formal há contra Lula.

A verdade é que as investigações são seletivas. As informações contra Aécio Neves foram arquivadas sumariamente, sem qualquer investigação. O objetivo é detonar o governo e o PT. No caso de Lula, tentam tirá-lo das eleições, quando as pesquisas mostram claramente que apesar da pancadaria sem tréguas, ele continua no páreo para 2018.

Os derrotados de 2014 querem tirar Dilma porque não aguentam mais esperar pela próxima eleição. E querem tirar Lula porque desconfiam que ele pode vencer novamente. Mas vamos resistir. As manifestações da última sexta-feira, sem convocação de entidades patronais e sem o apoio descarado da grande mídia, mostraram a resistência forte de parcela considerável do povo brasileiro ao golpe em preparação.

As investidas políticas do Poder Judiciário nesta última semana foram pesadas inclusive para articulistas e lideranças mais de direita no país. Escutas ilegais, divulgação inconsequente das gravações (o que é proibido por lei) e intromissão na prerrogativa da presidenta Dilma de nomear ministro de Estado, evidenciam o desespero daqueles que querem ser justiceiros e não fazer justiça! Não se combate crimes e ilegalidades, se esse é o objetivo da Lava Jato, com práticas criminosas e ilegais.

Enquanto Cuba e EUA viram uma página triste de suas histórias, no Brasil estamos prestes a lançar um livro em que registraremos um golpe frio sobre a democracia brasileira a pretexto de combatermos a corrupção. Com a responsabilidade a justiça ativista, a imprensa que informa errado e a despolitização da grande classe média brasileira.

 

Tudo sob o comando de nossa elite burguesa pouco patriótica

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