Sem quórum entre seus apoiadores e diante da obstrução dos oposicionistas, a base do governo adiou para a próxima semana a votação do requerimento de urgência para a apreciação em plenário do texto da reforma trabalhista no Senado. Esse intervalo torna ainda mais importante a mobilização para a greve geral desta sexta-feira (30), convocada pelas centrais sindicais e entidades do movimento social como protesto contra a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários.
Se a urgência for aprovada, basta um interstício de duas sessões deliberativas para que o projeto possa ser votado—o que pode ocorrer ainda na semana que vem. E bem que o governo imaginou aprovar esse requerimento nesta quinta-feira (29), mas não conseguiu. A sessão começou tensa, com os governistas mais uma vez tentando ligar o trator para fazer valer o afogadilho que vem caracterizando a tramitação desta matéria — é ponto de honra para eles, por exemplo, não permitir que o Senado mude uma vírgula sequer do texto que veio da Câmara, para que o projeto siga direto para a sanção após a aprovação no plenário da Casa.
Começando errado
Contrariando a praxe adotada nesta legislatura, o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE) anunciou que além da usual sessão deliberativa da manhã das quintas-feiras, estava convocando nova sessão para a tarde. Era uma tentativa de aprovar a urgência e já contar prazo para votar a proposta na semana que vem. Questionado pela oposição, Eunício retrucou: “Vou fazer porque a Mesa pode fazer”. A oposição enfrentou: “O senhor está errado em começar assim!”, reagiu o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ).
[blockquote align=”none” author=”Senadora Gleisi Hoffmann”]Nós também sabemos gritar e sabemos ser bravos! E, na hora de defender o direito dos trabalhadores, nós vamos fazer exatamente isso.[/blockquote]
Gleisi Hoffmann (PT-PR), sistematicamente impedida de falar por Eunício, foi ainda mais enfática: “Gostaria de que nós mantivéssemos na sessão um mínimo de respeito. Já estamos tirando o direito dos trabalhadores. Já estamos rasgando a CLT. Aí, temos que fazer isso dessa forma? No afronte? No acinte? Se houver esse comportamento aqui, nós vamos enfrentar! Nós não temos medo de grito! Nós também sabemos gritar e sabemos ser bravos! E, na hora de defender o direito dos trabalhadores, nós vamos fazer exatamente isso.”
Fôlego para a resistência
Sanado o entrevero, os senadores petistas usaram a tribuna para conclamar os brasileiros e brasileiras a se somarem à resistência às reformas. “Mais do que nunca a mobilização social é fundamental para impedir que o Congresso aprove essa reforma trabalhista feita na medida para aumentar os lucros do empresariado”, convocou Fátima Bezerra (PT-RN). “Nesta sexta-feira, nó vamos parar. Vamos fazer mais a greve geral”.
Além de Fátima, Lindbergh e Gleisi, os senadores Paulo Paim, Jorge Viana e Paulo Rocha também se manifestaram sobre a mobilização desta sexta-feira e a importância de mais esse protesto para pressionar o Senado a não aprovar a reforma trabalhista. “Esse governo está acabando, mas quer manter a agenda do golpe. Vamos impedir isso”, convocou Lindbergh.