A dilapidação de um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, a Petrobras, caminhou a passos largos no desgoverno Bolsonaro como parte da estratégia de impedir o desenvolvimento do Brasil a partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Seguindo a lógica perversa de saquear a empresa e asfixiar investimentos, Bolsonaro distribuiu quase seis vezes mais dividendos do que a média dos últimos quatro governos, aponta a Folha de S. Paulo, em reportagem publicada no fim de semana.
Com um lucro total de R$ 358,3 bilhões, em valores corrigidos pela inflação, a companhia repassou um total de R$ 289 bilhões em dividendos aos acionistas, muitos estrangeiros com ações na Bolsa da Nova York.
Sob Bolsonaro, a empresa também operou a menor política de investimentos em duas décadas: R$ 131,7 bilhões, quase metade do primeiro governo Lula (R$ 237,5 bilhões) e mais de quatro vezes menos do que o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma, R$ 534 bilhões e R$ 546,2 bilhões, respectivamente. No ano passado, a Petrobras investiu apenas US$ 9,8 bilhões, apesar de ter obtido um dos maiores lucros líquidos do mundo, US$ 34,4 bilhões.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro praticou um entreguismo sem precedentes na história da companhia, com 64 operações de vendas de ativos, somando US$ 33,9 bilhões, cerca de R$ 177 bilhões, pelo câmbio atual, segundo o pesquisador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Cloviomar Cararine. A venda de ativos e a exportação de óleo cru do pré-sal são alvo de duras críticas do presidente Lula desde a campanha eleitoral, além dos pagamentos de dividendos a acionistas.
“A Petrobras, ao invés de investir, resolveu agraciar os acionistas minoritários com R$ 215 bilhões, tendo um lucro de R$ 195 bilhões. E quanto foi o investimento da Petrobras? Quase nada”, criticou o presidente Lula, logo após a Petrobras anunciar a distribuição recorde de dividendos, no início de março. O presidente defende que a empresa volta a priorizar sua capacidade produtiva e contribua para o investimento em áreas vitais como educação e saúde.
“A Petrobras saiu de uma empresa que tinha um projeto estratégico nacional, de forte incidência na dinâmica produtiva brasileira para uma empresa menor, com patrimônio menor, com restrições de investimentos e que não olha mais o setor energético de forma integrada”, atesta o diretor-técnico do Ineep (Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Mahatma dos Santos, em depoimento à Folha.
De acordo com o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a desastrosa política de preços, somada a uma redução gradativa de investimentos, tiveram papel fundamental para o atual quadro de desmantelamento da empresa. Bacelar afirma que é preciso mudar a estrutura da Petrobras, que se transformou em “uma máquina de pagar dividendos a acionistas”.
“Isso é feito às custas da queda de investimentos e elevados preços internos de combustíveis e derivados, que impulsionam receitas de venda”, escreveu o coordenador no Twitter, após o anúncio do balanço da empresa, no último dia 2. “Ao longo de 2022, a Petrobras registrou um encolhimento de patrimônio e perda de capacidade produtiva. Sendo assim, o lucro foi bom pra quem?”, questiona.