A decisão do governo Bolsonaro de abolir o uso da expressão violência obstétrica das políticas públicas e documentos oficiais é um “retrocesso” que nega anos de luta e acúmulo na área de saúde da mulher, avalia o ex-Ministro da Saúde do governo Lula, hoje senador e líder do PT Humberto Costa (PE).
No Brasil, uma em cada quatro mulheres já foi vítima da chamada violência obstétrica — a violência física, psicológica, verbal, simbólica ou sexual praticada contra gestantes na hora do parto, assim como a negligência, discriminação ou procedimentos excessivos ou desnecessárias ou desaconselhados, como a episiotomia ou a manobra de Kristeller.
Na última sexta-feira (3), porém, um despacho do Ministério da Saúde determinou o banimento do termo violência obstétrica, alegando não haver “consenso sobre o conceito”.
Humanização do parto
“Há uma luta de muitos anos pela humanização do parto. Uma decisão como essa é um retrocesso muito grande em relação ao que se construiu até agora”, lamenta Humberto Costa.
Entre as práticas comuns caracterizadas como violência obstétrica estão a restrição ao direito da parturiente a um acompanhante ou ao alívio da dor, chegando até mesmo à proibição de beber água durante o trabalho de parto. Não raras, também, são as agressões verbais ou piadas desrespeitosas — “Está doendo agora, mas, na hora de fazer, você não reclamou”.
Procedimentos contraindicados
Procedimentos médicos questionáveis e até mesmo contraindicados também se inserem no rol de práticas caracterizadas como violência obstétrica. Os mais comuns são a episiotomia (corte do períneo) e a manobra de Kristeller (pressão no útero para saída do bebê).
A justificativa do Ministério da Saúde para banir a expressão “violência obstétrica” é que o termo teria “viés socialista”.