Guido Mantega: Governo não irá titubear diante da inflação

O ministro, no entanto, enfatizou que inflação está em tendência de queda e a pressão dos alimentos sobre a taxa é passageira.

O Governo tem tido sucesso na manutenção da inflação sob controle nos últimos anos e não irá hesitar em tomar medidas para continuar controlando o avanço dos preços, mesmo com medidas “não populares”, como a elevação dos juros. A declaração é do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “A área econômica não se pauta pelo calendário político”, disse, nesta sexta-feira (12), durante seminário “Rumos da Economia: Nosso modelo de crescimento” da revista Brasileiros, em São Paulo. O ministro lembrou, por exemplo, que em 2010, ano de eleições presidenciais, a taxa Selic foi elevada. “Não titubeamos em tomar medidas. Inclusive, posso dizer que mesmo as medidas que são consideradas menos populares são tomadas, por exemplo, em relação às taxas juros quando isso é necessário”, disse Mantega.

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, se reúne na próxima semana definir o futuro da taxa básica de juros, hoje na mínima histórica de 7,25% ao ano.

Mantega fez questão de frisar, no entanto, que a tendência mostrada pelo IPCA, divulgado esta semana, no primeiro trimestre é de desaceleração, em linha com o fim da sazonalidade desfavorável de alimentos. “A agricultura mais alimentar, de não commodities, tem volatilidade grande de ano para ano, mas isso é passageiro”, disse.

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A pressão cambial registrada em 2012, que teve impacto de 0,5 ponto percentual no IPCA do ano passado, nas contas do ministro, também não irá se repetir este ano, já que a cotação do dólar esta relativamente estável em torno de R$ 2 nos últimos meses. Sem o impacto do câmbio a inflação, o IPCA teria sido de 5,3% em 2012. Outra boa noticia teria vindo da inflação de serviços menos pressionada em março.

Segundo Mantega, a atual política monetária é mais eficaz, com juros menores e câmbio menos valorizado. Ele também voltou a dizer que as mudanças estão em curso e demoram certo tempo para surtirem efeito. Quando se reduz a taxa de juros, argumenta, é preciso que a economia se adapte à nova situação. “A economia brasileira convivia com os juros mais altos da Terra. É como se economia brasileira tivesse se viciado a taxas altas de juros.” Quando se reduz a taxa de juros, diz ele, há redução de custo de produção, mas também da renda financeira. Num primeiro momento, explicou o ministro, a tendência não é de expansão da atividade. “É preciso adaptação para que a economia passe a buscar rentabilidade no setor produtivo. Quando se baixa a taxa de juros em outros países, a reação é mais imediata, desde que não estejam na atual crise mundial.”

Os efeitos, porém, virão ao longo do tempo, diz Mantega. “O investimento realmente deslanchou e deve se manter nessa trajetória ao longo de 2013”, disse. Quando se altera o câmbio, destaca, com desvalorização em torno de 17% como no ano passado, a economia precisa se adaptar a exportação não aumenta porque a economia mundial se contraiu. “Isso acontecerá em momentos seguintes quando serão colhidos os frutos dessas mudanças.”

O ministro também citou o programa de desonerações, que reduziu o peso da carga tributária de diversos setores produtivos. Segundo ele, trata-se de um programa ousado. Em 2012, diz ele, houve redução de R$ 44,5 bilhões em tributação. Este ano haverá desoneração de R$ 70 bilhões, mais que 1,5% do PIB brasileiro. Para o ano que vem, calcula, serão R$ 88 bilhões em desonerações, quase 2% do PIB brasileiro. “Teremos carga tributária menor, que fará efeito aos poucos.” O ministro também citou a desoneração de folha de pagamentos, que diminui também o gasto dos empresários com os tributos trabalhistas. “Não podemos deixar que o custo do trabalho suba para as empresas, por isso fazemos a desoneração de folha.” Outros setores terão esse benefício ao longo do tempo. Mas a ampliação da desoneração, avisa, será feita gradualmente. Isso porque o país tem que preservar a solidez fiscal.

O ministro ainda citou a unificação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), em tramitação no Senado e que deverá aprovado pelo Congresso Nacional nos próximos meses. A próxima reforma a ser proposta pelo Governo será a do PIS e Cofins. Tudo isto, na avaliação de Mantega, irá contribuir para a melhora do cenário interno brasileiro.

Tolerância
Na esteira das declarações do Ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou, também nesta sexta-feira, que não haverá tolerância com a inflação e que, neste momento, o BC monitora atentamente todos os indicadores. “No futuro, vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária”, afirmou.

“O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação. Nós estamos nesse momento monitorando atentamente todos os indicadores e obviamente no futuro vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária”, disse Tombini, que participa da XV Reunião de Presidentes dos Bancos Centrais da América do Sul, que ocorre no Rio de Janeiro.

A inflação oficial de março de 0,47%, segundo o IPCA, foi menor que a de fevereiro (0,60%), mostrando a tendência de queda. Se tirar do percentual de 0,47%, a pressão dos alimentos, a taxa inflacionária seria de 0,25%

Com informações do Valor Econômico
 

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